Mas é o Bolsonaro que vai fugir... A prova contundente da explícita perseguição


 No Brasil, o contraste entre o tratamento de figuras públicas no âmbito jurídico continua a levantar questionamentos e provocar debates acalorados. Um exemplo emblemático é a discrepância de decisões judiciais envolvendo viagens ao exterior de líderes políticos e figuras condenadas. Entre os casos que chamam atenção, destaca-se o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, mesmo condenado e recorrendo em liberdade, conseguiu autorização para viagens internacionais, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro, sem condenações criminais, enfrenta restrições quanto a sua saída do país.


Lula, na época já condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, realizou viagens com agendas essencialmente privadas. Entre os compromissos, uma homenagem na França e reuniões com sindicalistas e socialistas na Suíça e Alemanha. Essas viagens ocorreram sem qualquer benefício claro ou interesse público para o Brasil. Curiosamente, poucos dias antes desse tour internacional, o ex-presidente teve um encontro com o Papa Francisco no Vaticano, o que também levantou debates sobre o propósito de sua agenda internacional.

Em paralelo, a situação de Jair Bolsonaro, que conta com milhões de votos e reconhecimento global, se mostra inversa. Apesar de não possuir nenhuma condenação criminal, Bolsonaro enfrenta restrições legais que limitam suas viagens ao exterior. Essa situação abre margem para acusações de tratamento desigual, sobretudo em um país onde o peso das decisões judiciais muitas vezes parece variar conforme o personagem envolvido.

Outro caso que agrava a percepção de dualidade no sistema judiciário envolve Sérgio Souza Boccaletti, ex-engenheiro da Petrobras condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Inicialmente proibido de viajar, Boccaletti teve a restrição revogada por unanimidade pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). A composição do colegiado responsável pela decisão incluiu Gilmar Mendes, André Mendonça, Kássio Nunes Marques, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, sendo este último atualmente ministro do governo Lula.

Esse cenário gera uma série de reflexões sobre os critérios e fundamentos que orientam as decisões judiciais no Brasil. Críticos apontam para o que consideram uma clara seletividade, onde figuras políticas ligadas a determinados grupos ou ideologias parecem encontrar maior facilidade para contornar impedimentos legais. Enquanto isso, outros enfrentam barreiras que muitos consideram arbitrárias, mesmo sem condenações formais ou provas concretas contra si.

O discurso de que Bolsonaro poderia "fugir do país" tem sido recorrente em alguns círculos, mas essa narrativa contrasta com o histórico recente de outros personagens políticos que, mesmo com condenações, conseguiram circular livremente em território internacional. Para muitos, a questão transcende a legalidade e entra no campo da moralidade e da imparcialidade do sistema de justiça brasileiro. Afinal, por que Lula, com uma condenação na época, pôde viajar sem entraves, enquanto Bolsonaro, sem sentença judicial, é alvo de tantas restrições?

A resposta a essa pergunta remete a um cenário mais amplo, onde a política e o sistema judiciário parecem cada vez mais entrelaçados. Enquanto decisões como a revogação das restrições de viagem de Boccaletti são tomadas por unanimidade, figuras como Gilmar Mendes são alvo frequente de críticas pela suposta liberalidade em suas decisões. Já Ricardo Lewandowski, hoje uma figura chave no governo atual, adiciona outra camada de complexidade às discussões sobre imparcialidade.

Nesse contexto, o caso de Lula destaca uma realidade preocupante: o contraste de tratamento pode ser percebido não apenas como um problema de justiça, mas também como uma ferramenta de poder político. A narrativa de que o então condenado viajou para cumprir agendas particulares sem oferecer benefícios concretos ao país contrasta fortemente com as restrições impostas a Bolsonaro. Esse descompasso levanta dúvidas sobre os interesses que realmente movem decisões dessa natureza e sobre os princípios que deveriam nortear um sistema judiciário democrático.

Além disso, o encontro de Lula com o Papa Francisco, embora simbolicamente importante para alguns, também é visto como mais uma prova do privilégio que lhe foi concedido. Enquanto outros são impedidos de viajar ou têm suas ações monitoradas com rigor, a liberdade concedida ao ex-presidente reforça a percepção de que há um peso e uma medida diferentes para cada situação, dependendo de quem é o personagem em questão.

Diante desses fatos, o debate sobre o sistema judiciário brasileiro permanece em aberto. As decisões tomadas em relação a figuras públicas, especialmente as que envolvem viagens internacionais, continuam a dividir opiniões e a suscitar questionamentos sobre imparcialidade e justiça. Seja no caso de Lula, Bolsonaro ou Boccaletti, uma coisa é certa: o tratamento desigual apenas reforça a desconfiança de muitos em relação às instituições do país. Em um cenário onde a política e a justiça parecem se confundir, a busca por respostas claras e transparentes se torna cada vez mais urgente.
Jornalista