Não era essa a promessa: Preço da picanha atinge a maior alta dos últimos três anos
O preço da picanha, um dos cortes de carne mais tradicionais e populares no Brasil, registrou um aumento de 9% em 2024, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa elevação no custo é a maior registrada em três anos e reflete uma tendência de alta no mercado de carnes no país.
Esse aumento ganha destaque pelo simbolismo da picanha na política e na cultura brasileira. O corte foi amplamente utilizado como tema de campanha na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo associado a promessas de retomada do poder de compra e acesso dos brasileiros a produtos de qualidade. No entanto, o aumento do preço ao longo do último ano levanta discussões sobre a inflação alimentar e as condições econômicas enfrentadas pela população.
De acordo com analistas do setor, a alta nos preços da picanha pode ser explicada por uma combinação de fatores. Entre os principais estão o aumento dos custos de produção, como insumos para alimentação do gado, energia elétrica e transporte, além da valorização de produtos brasileiros no mercado internacional. A alta demanda por carnes no exterior tem pressionado o mercado interno, reduzindo a oferta disponível e, consequentemente, elevando os preços.
Outro ponto relevante é a influência do clima no setor agropecuário. Secas prolongadas em algumas regiões do país afetaram a produção de pastagens, aumentando os custos para pecuaristas. Além disso, a logística do transporte de produtos foi impactada, especialmente em estados produtores, o que contribuiu para a escalada dos preços.
Esse aumento, no entanto, não foi exclusivo da picanha. Outros cortes de carne também registraram reajustes significativos, embora a picanha tenha se destacado por ser um dos itens mais caros e valorizados pelos consumidores brasileiros. O impacto foi especialmente sentido por famílias de baixa e média renda, que já enfrentam desafios com a inflação em outros setores, como combustíveis, energia e alimentos básicos.
Em 2023, a inflação acumulada foi moderada em relação a anos anteriores, mas o setor de alimentos continuou sendo um dos principais vilões no orçamento das famílias. Para consumidores que desejam manter a picanha como parte de suas refeições, o aumento representa um peso extra no bolso, levando muitos a buscarem alternativas mais acessíveis, como cortes de carne de segunda.
Especialistas apontam que, embora o aumento no preço da picanha possa ser um reflexo de fatores econômicos e de mercado, também é uma oportunidade para repensar o consumo. Muitos chefs e nutricionistas têm incentivado o uso de cortes menos nobres e métodos de preparo que valorizem diferentes partes do boi, como paleta, acém e músculo. Esses cortes, além de mais acessíveis, possuem grande potencial gastronômico quando bem preparados.
O tema também reacendeu discussões políticas e econômicas. Durante sua campanha de reeleição, o presidente Lula usou a picanha como símbolo de um Brasil mais inclusivo, em que alimentos de qualidade estariam acessíveis à maioria da população. O aumento do preço, porém, tem gerado críticas de opositores, que questionam se as promessas feitas durante a campanha estão sendo cumpridas. Por outro lado, aliados do governo defendem que o aumento dos preços não é algo diretamente controlado pelo Executivo, mas sim resultado de condições de mercado e fatores externos, como a guerra na Ucrânia e a recuperação econômica pós-pandemia.
Mesmo diante dos desafios econômicos, a picanha continua sendo um símbolo cultural e gastronômico do Brasil. Em churrascos de fim de semana, reuniões familiares e comemorações, o corte permanece como um dos preferidos dos brasileiros. Porém, sua acessibilidade é cada vez mais uma questão em pauta.
Para 2025, as expectativas no mercado de carnes ainda são incertas. Embora haja previsão de queda nos preços de alguns insumos, como fertilizantes e combustíveis, que impactam diretamente a pecuária, a instabilidade econômica global e fatores climáticos imprevisíveis continuam sendo obstáculos. O governo, por sua vez, tem buscado medidas para controlar a inflação alimentar, como o aumento da oferta de produtos básicos e a desoneração de alguns itens. Contudo, o impacto dessas políticas sobre cortes premium, como a picanha, ainda é limitado.
Enquanto isso, consumidores seguem tentando equilibrar suas escolhas alimentares com o orçamento disponível. Se por um lado a alta no preço da picanha é motivo de frustração para muitos, por outro, reflete a complexidade de um mercado interligado a fatores globais e locais, que vai muito além do que se vê nos supermercados e açougues.