Pedido de Bolsonaro chega a Moraes e tensão toma conta de Brasília
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um pedido ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando a devolução de seu passaporte. A medida, protocolada nesta sexta-feira (10), busca viabilizar a participação de Bolsonaro na cerimônia de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, marcada para o dia 20 de janeiro. A viagem, prevista entre os dias 17 e 22 do mesmo mês, é apontada como um compromisso de caráter diplomático e histórico, segundo a defesa do ex-presidente.
O requerimento foi protocolado pela nova equipe jurídica de Bolsonaro, que agora conta com a liderança do advogado criminalista Celso Vilardi. A troca na composição da defesa é vista como uma tentativa de reforçar a estratégia jurídica em meio às investigações em que Bolsonaro figura como investigado. De acordo com os advogados, o convite oficial para o evento foi recebido no dia 8 de janeiro e encaminhado ao ex-presidente por intermédio de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
No documento apresentado ao STF, a defesa anexou uma cópia do convite emitido pelo comitê de posse de Trump, redigido em português. A mensagem questiona a disponibilidade de Bolsonaro para comparecer à cerimônia e foi descrita pela defesa como uma demonstração de "reconhecimento pelos valores democráticos e republicanos" promovidos pelo ex-presidente brasileiro. Os advogados enfatizaram que a presença de Bolsonaro no evento seria um gesto simbólico, reforçando os laços entre Brasil e Estados Unidos.
Contudo, o pedido de Bolsonaro enfrenta obstáculos significativos. Desde o ano passado, seu passaporte está retido pela Polícia Federal, em cumprimento a uma decisão do ministro Alexandre de Moraes. A retenção faz parte das medidas impostas no âmbito do inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado. Além da retenção do documento, Bolsonaro também está proibido de manter contato com outros investigados no caso, restrição que tem gerado críticas por parte de seus apoiadores.
A defesa de Bolsonaro argumentou que o ex-presidente não tem intenção de prejudicar as investigações em curso e que está disposto a colaborar plenamente com a Justiça. Para os advogados, a liberação do passaporte seria uma medida equilibrada, permitindo que Bolsonaro exerça seu papel enquanto figura pública e líder político. O documento protocolado destaca que a viagem não interfere nas apurações e que o retorno do ex-presidente ao Brasil está garantido antes do fim do mês de janeiro.
A solicitação gerou tensão nos bastidores do STF e em Brasília. A decisão está agora nas mãos de Alexandre de Moraes, cuja postura firme em relação a Bolsonaro já gerou embates acalorados entre o Judiciário e aliados do ex-presidente. Caso Moraes rejeite o pedido, Bolsonaro ficará impedido de participar de um evento que seus apoiadores consideram crucial para reforçar sua imagem internacional. Por outro lado, uma eventual autorização poderia ser interpretada como uma flexibilização das restrições impostas ao ex-presidente, algo que o ministro tem evitado ao longo das investigações.
A possibilidade de Bolsonaro comparecer à posse de Trump também movimenta o cenário político nacional. O evento é visto como uma oportunidade para Bolsonaro consolidar seu apoio internacional, especialmente junto a setores conservadores nos Estados Unidos. Desde que deixou a presidência, Bolsonaro tem buscado se posicionar como uma figura de destaque no movimento de direita global, e sua presença na cerimônia poderia fortalecer essa narrativa.
Enquanto a decisão não é anunciada, apoiadores e opositores de Bolsonaro acompanham o desenrolar do caso com grande expectativa. Nas redes sociais, o tema já provoca debates acalorados. Aliados do ex-presidente defendem que a viagem é legítima e que a devolução do passaporte não comprometeria a Justiça. Por outro lado, críticos apontam que Bolsonaro deveria concentrar seus esforços em esclarecer as acusações que enfrenta, ao invés de priorizar compromissos internacionais.
A devolução ou não do passaporte de Bolsonaro será mais um capítulo nas relações entre o ex-presidente e o STF, que têm sido marcadas por embates frequentes. A decisão de Alexandre de Moraes deverá ser divulgada nos próximos dias e poderá ter implicações significativas tanto no âmbito jurídico quanto no político, alimentando o clima de tensão que já domina Brasília.