Preocupado, Gilmar esteve com embaixadora americana em dezembro, mas ela acaba de entregar o cargo
Em dezembro, logo após a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, o ministro Gilmar Mendes, preocupado com as possíveis implicações dessa mudança no cenário político, visitou pessoalmente a embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Na ocasião, ele foi recebido pela embaixadora Elizabeth Bagley, uma nomeação feita pelo então presidente Joe Biden. O encontro, que não passou despercebido, ocorreu em um momento de incerteza e expectativas elevadas diante da transição de governo nos Estados Unidos.
Em suas declarações sobre o encontro, o ministro Gilmar Mendes afirmou que a conversa com a embaixadora abordou, entre outros temas, os 200 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos, uma aliança histórica que atravessou vários governos ao longo do tempo. Mendes ressaltou a importância dessa relação, destacando a presença do capital americano no Brasil, assim como a cooperação bilateral existente. A troca de experiências e o fluxo de investimentos entre os dois países, principalmente no setor empresarial, foram enfatizados como componentes importantes dessa parceria.
Apesar do tom amigável da conversa e da abordagem positiva em relação à continuidade das relações, o ministro deixou claro que, no cenário atual, a mudança no governo dos Estados Unidos poderia trazer novas dinâmicas para esse relacionamento. A visita à embaixada parecia refletir a busca de Gilmar Mendes por uma maior compreensão do que estava por vir com a ascensão de Trump à presidência, especialmente considerando que o novo governo dos Estados Unidos, sob Trump, tinha um perfil mais protecionista e menos voltado para a diplomacia internacional.
O próprio Trump, em uma das primeiras declarações após assumir a presidência, foi enfático ao afirmar que os Estados Unidos não precisavam do Brasil, mas que este último, sim, precisava do apoio americano. Essa frase causou certo alvoroço, uma vez que soava como um retrocesso nas relações bilaterais, em comparação com a abordagem mais cooperativa adotada sob a administração de Barack Obama, com a qual o Brasil havia desfrutado de um relacionamento relativamente harmonioso.
Para muitos, essa declaração de Trump parecia um reflexo de uma política externa mais focada nos interesses imediatos dos Estados Unidos, com menos ênfase em alianças estratégicas com outros países. A postura do novo presidente contrastava com a visão mais diplomática de Biden, que buscava fortalecer as relações globais dos EUA, incluindo com o Brasil. Esse contraste de abordagens, sem dúvida, representava um desafio para a embaixadora Elizabeth Bagley, que, com a chegada de Trump, viu seu tempo à frente da embaixada chegar ao fim. Ela entregou seu cargo na semana passada, encerrando uma fase de sua missão diplomática que teve início com o governo de Biden.
A saída de Bagley e a declaração contundente de Trump sobre a relação entre os dois países acenderam um alerta nas autoridades brasileiras, que agora precisavam se adaptar a uma nova dinâmica. O governo de Jair Bolsonaro, que até então havia sido muito próximo de Trump, viu-se diante de um cenário em que o apoio americano poderia ser mais restrito, ou, na visão de muitos, condicionado a interesses específicos dos Estados Unidos.
A expectativa era de que o Brasil precisaria se posicionar com mais cautela e, possivelmente, repensar sua política externa. Além disso, a dependência de investimentos e parcerias com os Estados Unidos, que sempre foi um dos pilares da economia brasileira, poderia ser afetada caso o novo governo americano não priorizasse o Brasil como parceiro estratégico. As empresas brasileiras, que ao longo dos anos expandiram suas operações nos Estados Unidos, também poderiam sentir os efeitos dessa mudança, que poderia se refletir em novos obstáculos econômicos e regulatórios.
Neste novo contexto, a relação entre Brasil e Estados Unidos passou a ser vista sob uma perspectiva mais pragmática, onde os interesses de cada país precisariam ser mais explicitamente negociados. Para o Brasil, a questão central seria como equilibrar sua dependência dos Estados Unidos com a busca por novos parceiros comerciais e a consolidação de sua presença em outros mercados globais.
A diplomacia brasileira, então, precisaria se adaptar a essas novas realidades. A estratégia, talvez, fosse estabelecer um canal de comunicação mais direto e assertivo com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que buscaria diversificar suas parcerias internacionais para garantir maior estabilidade e soberania no cenário global.
Em suma, a transição de governo nos Estados Unidos trouxe um novo fôlego para as relações entre os dois países, mas também um desafio, especialmente para aqueles como o ministro Gilmar Mendes, que estavam acompanhando de perto os desdobramentos dessa mudança. O futuro da relação Brasil-Estados Unidos, agora sob a ótica de Donald Trump, parece ter se tornado mais complexo e exigirá uma abordagem mais cuidadosa e estratégica por parte do governo brasileiro.