Revelada a "carta na manga" de Bolsonaro no apoio a Alcolumbre


O ex-presidente Jair Bolsonaro trouxe à tona sua estratégia de apoio a Davi Alcolumbre para a presidência do Senado, decisão que tem causado polêmica nos bastidores políticos. Durante uma entrevista à Revista Oeste, Bolsonaro detalhou os motivos que o levaram a optar por essa aliança, destacando que a movimentação visa abrir caminho para projetos considerados estratégicos por seus aliados, como a anistia aos condenados pelos atos ocorridos em 8 de janeiro de 2023. Para Bolsonaro, apesar das críticas, essa aproximação pode garantir avanços importantes para a oposição no Congresso.

Bolsonaro reconheceu que Alcolumbre, em sua gestão anterior no Senado, não pautou pedidos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal, uma demanda recorrente de sua base de apoio. Mesmo assim, o ex-presidente acredita que essa aliança pode render frutos. Ele enfatizou que, caso consiga emplacar um aliado na primeira vice-presidência do Senado, será possível, na ausência de Alcolumbre, avançar na votação do projeto de anistia. Segundo Bolsonaro, a ausência de cargos estratégicos na mesa diretora e nas comissões enfraquece qualquer articulação política e impede a oposição de ter voz ativa.

Bolsonaro fez questão de justificar seu apoio, lembrando o erro estratégico cometido em 2023, quando a oposição tentou eleger Rogério Marinho para a presidência do Senado e acabou isolada politicamente. Na ocasião, a derrota deixou o grupo sem espaço nas comissões e na mesa diretora, uma posição que ele agora pretende reverter. Segundo ele, o apoio a Alcolumbre, embora controverso, é uma forma de garantir maior influência e não repetir os mesmos erros do passado.

Durante a entrevista, Bolsonaro também rebateu críticas sobre um possível acordo de bastidores que teria comprometido o candidato à presidência da Câmara, Hugo Motta, a não pautar o projeto de anistia. Ele acusou a esquerda de tentar manipular o discurso para impedir que o tema avance no Congresso. Para Bolsonaro, a postura dos opositores reflete uma estratégia de construir narrativas contrárias à anistia, o que ele considera injusto diante do tratamento recebido pelos condenados. Na visão do ex-presidente, a falta de ação sobre o tema perpetua um cenário de tortura e injustiça.

Outro ponto levantado na entrevista foi a comparação entre Hugo Motta e o atual presidente da Câmara, Arthur Lira. Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente, destacou que Lira sempre respeitou o regimento e manteve o plenário como dono das pautas, sem travar projetos estratégicos. Segundo Eduardo, Motta foi escolhido por Lira para sua sucessão justamente por compartilhar dessa mesma linha de condução, o que, na visão da oposição, representa uma garantia de que o projeto de anistia será analisado em algum momento.

A estratégia de Bolsonaro também reflete a busca por reorganizar sua base de apoio, especialmente após a derrota nas eleições de 2022 e as dificuldades enfrentadas pela oposição para se articular no Congresso. A aprovação da anistia é vista como uma prioridade pelos aliados do ex-presidente, que consideram as penas impostas aos participantes dos atos de 8 de janeiro desproporcionais. Para Bolsonaro, a aprovação desse projeto é mais do que uma questão política; é uma reparação às pessoas que, segundo ele, estão sendo tratadas de forma desumana.

Apesar disso, a aliança com Alcolumbre não é isenta de críticas dentro do próprio campo bolsonarista. Muitos veem o apoio como uma contradição, dado o histórico de atritos entre o ex-presidente e o senador. No entanto, Bolsonaro defende que o pragmatismo político deve prevalecer. Ele argumenta que, sem cargos nas comissões e na mesa diretora, a oposição continuará relegada a um papel irrelevante no Congresso, incapaz de influenciar pautas importantes para seus eleitores.

O cenário político, portanto, segue marcado por disputas intensas e negociações delicadas. A estratégia de Bolsonaro com Alcolumbre e Hugo Motta demonstra que o ex-presidente está disposto a adotar caminhos controversos para alcançar seus objetivos. Ao mesmo tempo, a esquerda já se mobiliza para barrar qualquer avanço do projeto de anistia, utilizando sua maioria em algumas instâncias do Congresso como ferramenta de resistência.

Enquanto isso, a base bolsonarista observa com expectativa os próximos passos dessa articulação. A possibilidade de emplacar um aliado na primeira vice-presidência do Senado e garantir compromissos no comando da Câmara é vista como uma chance de retomada de força política. No entanto, o sucesso dessa estratégia depende não apenas da habilidade de negociação de Bolsonaro e seus aliados, mas também da disposição de Alcolumbre e Hugo Motta em cumprir os acordos firmados. O resultado dessas movimentações pode determinar o futuro da oposição e a capacidade do ex-presidente de continuar influenciando os rumos da política brasileira.

Jornalista