A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou recentemente uma denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por suposto envolvimento em um golpe de Estado. No entanto, algumas declarações do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que poderiam contradizer a acusação, não foram incluídas no documento oficial. Essas omissões geraram questionamentos sobre a imparcialidade e a integridade da denúncia.
Desde que fechou um acordo de delação premiada em setembro de 2023, Mauro Cid tem mudado suas versões em diversos momentos. Ele relatou a interlocutores que teria sido pressionado a incluir detalhes em seu depoimento que não condiziam com a realidade. Além disso, chegou a alterar sua versão após ser ameaçado de prisão pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. As inconsistências em suas declarações levantam dúvidas sobre a confiabilidade do material usado pela PGR para embasar a acusação contra o ex-presidente.
Um dos pontos controversos omitidos pela PGR envolve o chamado plano Punhal Verde e Amarelo, que supostamente previa a eliminação do ministro Alexandre de Moraes e da chapa presidencial eleita, composta por Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. A denúncia afirma que Bolsonaro tinha conhecimento do plano e o autorizou, mas Mauro Cid declarou à Polícia Federal que não sabe se o ex-presidente sequer tomou ciência do documento em que a ideia foi elaborada. Essa fala, que poderia colocar em xeque a narrativa da acusação, não foi mencionada na denúncia formalizada pela PGR.
Outro aspecto polêmico é o monitoramento de Alexandre de Moraes. A PGR alega que Bolsonaro teria solicitado a vigilância do ministro em duas ocasiões, sendo uma delas vinculada ao plano Punhal Verde e Amarelo. No entanto, segundo Cid, o pedido feito por Bolsonaro não teria relação com a operação mencionada, mas sim com a suspeita de que Moraes estaria se reunindo com o então vice-presidente Hamilton Mourão. Esse detalhe relevante foi deixado de fora na peça acusatória, levantando questionamentos sobre a seletividade da PGR ao apresentar as provas.
Além disso, a denúncia cita uma reunião de militares ocorrida em Brasília no dia 28 de novembro de 2022, na qual teria sido discutida a elaboração de uma carta com o objetivo de pressionar o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, a aderir ao suposto golpe. Entretanto, Mauro Cid afirmou que o encontro não passou de uma conversa informal entre militares insatisfeitos com o resultado das eleições, sem qualquer planejamento concreto para ações golpistas. Segundo ele, ninguém apresentou um plano específico de ação, tornando a narrativa da PGR mais frágil.
A participação de Bolsonaro nos eventos de 8 de janeiro de 2023 também foi mencionada na denúncia. A PGR utilizou mensagens de Mauro Cid para sugerir que havia uma movimentação golpista mesmo após a posse de Lula. No entanto, Cid afirmou em sua delação que as mensagens foram interpretadas de maneira equivocada e que Bolsonaro não participou da organização dos atos que resultaram na invasão das sedes dos Três Poderes. Essa omissão da PGR reforça a tese de que houve um direcionamento na denúncia para incriminar o ex-presidente, desconsiderando informações que poderiam oferecer um contraponto.
As omissões nas declarações de Mauro Cid na denúncia levantam debates sobre a condução das investigações e a imparcialidade da PGR. Setores ligados a Bolsonaro apontam que há uma tentativa de construir uma narrativa desfavorável ao ex-presidente, ignorando evidências que poderiam amenizar as acusações. Por outro lado, juristas argumentam que a denúncia ainda precisa ser analisada pelo STF, que terá a responsabilidade de avaliar se há elementos suficientes para levar o caso adiante.
O caso continua a repercutir no cenário político brasileiro, com desdobramentos que podem influenciar a trajetória de Bolsonaro e seus aliados. Enquanto a defesa do ex-presidente promete contestar a denúncia e expor as inconsistências do documento, a PGR mantém sua posição e sustenta que as provas apresentadas são robustas. O desenrolar desse processo pode ter impactos significativos no futuro político do país, à medida que a sociedade acompanha de perto cada novo capítulo dessa história.