A possível divulgação de um relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA) com críticas às decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, pode provocar um novo capítulo na relação entre Estados Unidos e Brasil. De acordo com informações divulgadas pelo portal Metrópoles, o documento pode servir como justificativa para que Donald Trump adote medidas mais rígidas contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo restrições comerciais e sanções políticas.
A tensão entre os governos de Brasil e Estados Unidos já vinha crescendo nos últimos meses, especialmente após a decisão da administração Trump de impor novas tarifas sobre o aço brasileiro. Agora, o relatório da OEA pode fortalecer a visão do ex-presidente norte-americano de que o Brasil vive sob uma "ditadura", conforme afirmam assessores próximos a ele. Entre os principais aliados de Trump que defendem essa tese estão o bilionário Elon Musk e Jason Miller, estrategista da campanha republicana e ex-assessor detido em Brasília em 2021 por ordem de Moraes.
Elon Musk tem se mostrado um crítico feroz do governo Lula e, em particular, de Alexandre de Moraes. Em diversas ocasiões, ele acusou o ministro de atuar para "censurar opositores" e "restringir a liberdade de expressão" no Brasil. O empresário, que mantém contato direto com Trump na Casa Branca, estaria pressionando para que o governo norte-americano amplie as medidas contra o Brasil caso o relatório da OEA confirme as acusações de abusos cometidos pelo STF. Jason Miller, por sua vez, reforça a narrativa de que há perseguição política contra opositores de esquerda no Brasil e defende uma postura mais agressiva de Washington contra Lula.
Caso o relatório da OEA traga um tom severo contra Moraes, Trump pode usar isso como um argumento para endurecer sua postura em relação ao Brasil no cenário internacional. Uma das possibilidades cogitadas por analistas é a imposição de restrições comerciais que afetem setores estratégicos da economia brasileira, além da já anunciada taxação do aço. Medidas como essas poderiam enfraquecer a relação entre os dois países e dificultar acordos comerciais futuros.
O peso do relatório da OEA se deve, em grande parte, ao financiamento que a entidade recebe dos Estados Unidos. Durante sua gestão, Trump destinou cerca de US$ 50 milhões à organização, representando metade do orçamento total da OEA. Caso o documento final não reflita os interesses norte-americanos, há o risco de que Trump adote a mesma estratégia utilizada anteriormente com outras instituições, como a agência USaid e ONGs acusadas de favorecer pautas progressistas, cortando os repasses financeiros.
Outro fator que sugere um possível tom crítico do relatório é a atuação de Pedro Vaca Villarreal, relator da OEA responsável pela investigação no Brasil. Villarreal se reuniu com diversas figuras políticas, incluindo Moraes e Bolsonaro, e declarou que as denúncias feitas contra o ministro do STF são "impressionantes". Além disso, Bolsonaro afirmou que o relator garantiu um "relatório sincero" sobre a atual situação do país, o que foi interpretado por aliados do ex-presidente como um indicativo de que o documento trará críticas à atuação de Moraes.
Ainda não há confirmação oficial sobre o teor do relatório ou sobre a data de sua divulgação, mas a simples possibilidade de que ele contenha informações desfavoráveis ao governo brasileiro já está causando preocupação no Planalto. Lula e seus assessores acompanham de perto os desdobramentos do caso e estudam formas de minimizar eventuais impactos diplomáticos. O governo brasileiro também aposta na boa relação com outros países membros da OEA para equilibrar as possíveis pressões vindas dos Estados Unidos.
A relação entre Trump e Bolsonaro sempre foi marcada por alinhamento ideológico e apoio mútuo, o que faz com que o ex-presidente norte-americano continue tendo interesse no cenário político brasileiro. Desde que deixou a Casa Branca, Trump tem mantido contato com aliados no Brasil e não esconde sua insatisfação com o governo Lula. A divulgação do relatório da OEA pode se tornar mais um elemento nessa disputa e acirrar ainda mais os ânimos entre as duas nações.
Enquanto isso, a oposição no Brasil vê o relatório da OEA como uma possível arma contra o governo Lula e contra Moraes. Parlamentares bolsonaristas já se manifestaram pedindo transparência na divulgação do documento e cobrando providências caso as denúncias sejam confirmadas. Eles também tentam mobilizar aliados internacionais para pressionar o STF e evitar que novas decisões de Moraes sejam vistas como abusivas.
O cenário internacional continua instável, e a divulgação do relatório da OEA pode ser um fator decisivo para o futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos. Trump, que já demonstrou disposição para endurecer sua postura contra Lula, pode usar esse novo elemento para justificar ações mais duras. Se isso acontecer, o governo brasileiro terá de lidar com mais um desafio diplomático em meio às disputas políticas internas e às dificuldades econômicas que o país enfrenta.