Montoro disse que se surpreendeu ao descobrir que teria que protocolar pedido para o gabinete de Moraes, ao invés do documento ser direcionado ao STF. Porém, o pior veio depois quando a resposta à solicitação não saiu nos autos, mas por meio de contato telefônico.
- Eu nunca vi isso em 15 anos de advocacia - desabafou.
E não é só isso, se a defesa quiser ter acesso ao processo não o fará integralmente porque Moraes decidiu por conta própria compartilhar com os advogados apenas partes do processo previamente escolhidas por ele. E tem mais um detalhe: nada é enviado por email, fax ou cadastrado online. Os advogados têm que ir a Brasília copiar os despachos.
- Em pleno ano de 2022, em que qualquer fórum estadual do Brasil já é digital, o ministro instaura um procedimento físico para dificultar o acesso de quem mora fora de Brasília - espantou-se.
Parece absurdo mas a postura de Moraes já é conhecida - há anos - entre o Poder Judiciário e o meio acadêmico. Em fevereiro de 2017, alunos da Faculdade de Direito da USP, juristas e movimentos populares organizaram um grande ato contra a nomeação de Moraes ao STF. Mais de 280 mil pessoas assinaram abaixo-assinado contra a indicação dele à Suprema Corte. Entre as denúncias de colegas e discentes da faculdade onde lecionava, estavam sempre acusações de que não respeitava o rito processual e "teve atitudes incompatíveis com os direitos humanos e com os direitos fundamentais".
- Nos cargos que ocupou nos últimos anos, como Secretário de Segurança Pública (de São Paulo) e ministro da Justiça, teve atitudes incompatíveis com os direitos humanos, com os direitos fundamentais. As reintegrações de posse dos secundaristas sem mandado judicial, as chacinas que aconteceram enquanto ele era Secretário e também a crise no sistema carcerário - apontou a presidente do Centro Acadêmico, Paula Masulk, na época.