Ex-diretor da Globo fala do apoio da TV ao Governo Lula e a luta que travou contra Bolsonaro


Pedro Vasconcelos, um nome conhecido nos bastidores da TV Globo por mais de três décadas, decidiu romper o silêncio em uma entrevista reveladora ao programa da coluna Gente no YouTube. O ex-diretor, que iniciou sua jornada na emissora como ator na novela "Top Model" em 1989 e posteriormente ascendeu como diretor de produções marcantes como "A Favorita" (2008) e "A Força do Querer" (2017), abordou temas sensíveis que vão desde a crise na TV aberta até questões políticas que envolvem a emissora.


Aos 50 anos, Vasconcelos tem se dedicado desde 2022 a cursos motivacionais, buscando auxiliar colegas demitidos da Globo a enfrentar novos desafios após suas saídas da empresa. Em suas palavras, ele destaca a importância dos talentos humanos na produção televisiva: "Atores, textos e diretores maravilhosos são a base de qualquer empresa de dramaturgia de sucesso, seja no teatro, no cinema ou na televisão."


No entanto, o ex-diretor não se limitou a reflexões sobre a arte da televisão. Ele também abordou questões internas delicadas que afetam a reputação da Globo, como os rumores recorrentes sobre o chamado "teste do sofá". Vasconcelos criticou severamente essa prática, atribuindo-a à falta de caráter de alguns indivíduos, e reconheceu que, embora a Globo tenha sido associada a esses escândalos no passado, havia um padrão de rigor e competência que limitava tais comportamentos.


Em relação à crise enfrentada pela TV aberta, Vasconcelos foi incisivo ao apontar a ascensão da internet como um desafio iminente. Para ele, a televisão tradicional está perdendo espaço para uma miríade de conteúdos online, onde qualquer pessoa pode se tornar um produtor de conteúdo. Ele compara a situação atual da TV à evolução do rádio, prevendo que a televisão continuará existindo, mas com uma relevância cada vez menor.


Durante a entrevista, o ex-diretor também comentou sobre a postura política da Globo, algo que sempre gerou controvérsia. Ele afirmou que a emissora adotou uma posição clara à esquerda, apoiando o governo atual de Luiz Inácio Lula da Silva. Essa escolha política não é novidade para Vasconcelos, que mencionou o episódio em que o então âncora William Bonner pediu desculpas publicamente pela cobertura desigual no debate entre Lula e Fernando Collor de Mello nas eleições de 1989.


"A Globo está apoiando o governo atual (do Lula) e criou uma briga desnecessária e contraproducente com o governo anterior (de Bolsonaro). Como empresa de comunicação, ela deveria se comunicar com todos", disse Vasconcelos durante a entrevista. Ele reconheceu que a Globo sempre teve uma tendência de alinhar seu apoio a determinados governos, mas destacou que essa polarização pode ter efeitos negativos a longo prazo para a credibilidade da emissora.


Além disso, o ex-diretor trouxe à tona críticas sobre a cobertura jornalística da Globo durante eventos críticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul. Ele argumentou que a capacidade da população em se tornar "transmissores de TV pessoais" durante crises como essa expõe a lentidão das grandes redes em cobrir eventos de maneira eficiente e compassiva.


Enquanto Vasconcelos compartilhava suas observações sobre a crise e os desafios da TV aberta, ele não deixou de mencionar a importância da inclusão na dramaturgia. Para ele, abordar temas como homossexualidade e drogas é crucial, desde que seja feito de forma a potencializar a obra artística e não de maneira forçada que possa alienar parte do público.


A entrevista de Pedro Vasconcelos não apenas ofereceu um vislumbre dos bastidores da TV Globo, mas também lançou luz sobre questões profundas que afetam não apenas a indústria televisiva brasileira, mas também a cultura organizacional e os valores éticos dentro das grandes corporações de mídia.
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