Comandante do Exército abre inquérito contra militares que lançaram forte carta após eleições de 2022


Em uma decisão que promete causar reverberações significativas dentro das Forças Armadas, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, determinou a abertura de um inquérito para investigar militares que assinaram uma carta com suposto teor golpista logo após as eleições de 2022. A medida foi tomada após a identificação de "indícios de crimes" no conteúdo do documento, que, segundo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), continha uma "clara ameaça de atuação armada" caso o resultado das urnas fosse confirmado.


O inquérito tem como principais alvos dois coronéis da ativa, Alexandre Castilho Bitencourt da Silva e Anderson Lima de Moura, além de dois coronéis da reserva, Carlos Giovani Delevati Pasini e José Otávio Machado Rezo Cardoso. Todos eles são suspeitos de terem desempenhado papéis de liderança na redação e disseminação da carta, que foi dirigida ao então comandante do Exército, general Freire Gomes.


Intitulado “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, o documento foi redigido em um contexto de grande tensão política, logo após as eleições presidenciais de 2022, que resultaram na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. A carta, descoberta no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência no governo Bolsonaro, teria sido um instrumento de pressão para que o Exército apoiasse uma suposta tentativa de golpe, caso o resultado eleitoral fosse confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Ao todo, 37 membros do Exército assinaram o texto, o que levou à abertura de investigações abrangentes que agora atingem tanto oficiais da ativa quanto da reserva. Segundo informações obtidas junto a fontes militares, todos aqueles que assinaram ou rubricaram o documento serão investigados. Enquanto os autores da carta enfrentam acusações mais graves, como conspiração para golpe de Estado, os demais militares poderão ser acusados de "transgressão disciplinar", o que pode levar a sanções administrativas e possíveis expulsões das fileiras do Exército.


A abertura do inquérito por Tomás Paiva marca um momento crucial na história recente das Forças Armadas brasileiras. Desde o final do regime militar, em 1985, as Forças Armadas têm se mantido afastadas de envolvimentos diretos na política, mas o cenário mudou durante o governo de Jair Bolsonaro, que frequentemente evocou o apoio militar em suas disputas políticas. A carta golpista, que veio à tona durante as investigações sobre o ex-presidente e seus aliados, é vista como um sintoma desse período de turbulência.


De acordo com fontes ligadas ao STF, o ministro Alexandre de Moraes tem acompanhado de perto as investigações militares e considera o conteúdo da carta extremamente preocupante. Moraes, que também lidera inquéritos sobre ataques à democracia e a disseminação de fake news, vê a carta como uma das mais graves tentativas de desestabilização institucional dos últimos anos. Ele já teria pedido acesso ao inquérito militar para avaliar possíveis ações adicionais a serem tomadas pelo Supremo.


Para o Exército, a situação é delicada. A abertura do inquérito representa um esforço para preservar a imagem institucional e demonstrar que atitudes que ferem a hierarquia, a disciplina e os princípios constitucionais não serão toleradas. O general Tomás Paiva, ao decidir pela investigação, busca reafirmar o compromisso das Forças Armadas com a Constituição e a ordem democrática, num momento em que o país ainda se recupera das tensões pós-eleitorais.


Em contrapartida, a medida pode gerar descontentamento dentro das fileiras do Exército, especialmente entre aqueles que ainda apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro. Há preocupações de que a investigação possa ser interpretada como uma tentativa de "limpeza" dos quadros militares de oficiais mais alinhados com a ala bolsonarista, o que pode aprofundar divisões internas na instituição.


O desenrolar do inquérito também será um teste para o comando de Tomás Paiva, que assumiu a liderança do Exército com a promessa de restaurar a confiança pública na instituição e afastá-la de controvérsias políticas. Até o momento, o comandante tem adotado uma postura firme, mas discreta, buscando evitar a exposição midiática excessiva enquanto conduz uma investigação que pode ter profundas consequências para o futuro das Forças Armadas no Brasil.


Os próximos passos da investigação serão fundamentais para determinar o impacto que este caso terá na estabilidade interna do Exército e na relação entre as Forças Armadas e o governo civil. A sociedade brasileira aguarda com atenção os desdobramentos, conscientes de que a forma como o Exército lida com este episódio pode definir seu papel na preservação da ordem democrática nos anos vindouros.


Com a continuidade do inquérito, espera-se que novas informações venham à tona, possibilitando um entendimento mais claro do que motivou a criação da carta e das intenções por trás de sua divulgação. Ao mesmo tempo, o caso levanta questões sobre os limites da liberdade de expressão dentro das Forças Armadas e o papel da hierarquia militar em momentos de crise política.

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