Datena reconhece desempenho ruim em debate e não crava estar na urna em outubro

 

São Paulo — Em uma entrevista que trouxe à tona sua autoconsciência e transparência, o candidato a prefeito de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB), admitiu que seu desempenho no primeiro debate eleitoral, realizado na última quinta-feira (8) pela Band, não foi como esperado. Datena, um dos rostos mais conhecidos da televisão brasileira, reconheceu que subestimou o ambiente de um debate político, afirmando que não conseguiu se comunicar da maneira que esperava.

"A crítica é justa. Já dizia o Chacrinha: quem não se comunica, se estrumbica. Não estou acostumado com regra de debate e em falar no tempo", declarou Datena, demonstrando sua franqueza ao admitir que, apesar de sua vasta experiência como apresentador de TV, o formato rígido dos debates políticos revelou-se um desafio. "Eu não fui aquilo que pensava que seria e subestimei o debate. Achei que por ser um bom apresentador de televisão eu fosse dar um show nos caras", acrescentou o candidato.

Essa declaração surpreendeu muitos, especialmente aqueles que acreditavam que a habilidade de Datena em lidar com o público e a pressão ao vivo lhe daria uma vantagem natural nos debates eleitorais. No entanto, a confissão de que subestimou a dinâmica do debate pode ser vista como um sinal de humildade e uma tentativa de conectar-se com os eleitores de forma autêntica.

### **Posicionamento Político**

Durante sua aparição no programa Roda Viva, na TV Cultura, Datena também falou sobre suas posições em relação aos possíveis cenários de um segundo turno nas eleições. O jornalista e apresentador deixou claro que não apoiaria Guilherme Boulos (PSOL) nem o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), caso um desses adversários avançasse para a fase final da disputa. "Eu não apoiaria o Boulos pro segundo turno. E não precisa nem perguntar se vou apoiar Ricardo Nunes", afirmou Datena, destacando que suas ideias são "antagônicas" às de Boulos e ao PT, partido ao qual foi filiado por mais de duas décadas.

Apesar de suas críticas aos concorrentes mais fortes, Datena fez questão de mencionar outros nomes que ainda estão no páreo, como Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB), sugerindo que a corrida eleitoral em São Paulo está longe de ser decidida.


O candidato também abordou questões fundamentais para a cidade de São Paulo. Em relação ao problema dos dependentes químicos, Datena expressou uma opinião firme, mas com um tom humanitário. "O dependente químico tem que ser tratado com o maior carinho possível", disse ele, revelando que essa posição é fruto de uma experiência pessoal dolorosa. "Tenho prova concreta dentro da minha casa. Um dos maiores grandes da minha vida foi tirar uma pessoa da minha família do consumo de drogas. A terapia para o dependente químico é fundamental", afirmou, defendendo a internação compulsória como uma medida necessária em casos extremos.

Outro tema polêmico abordado por Datena foi o aborto. O candidato destacou que apoia o procedimento apenas nas três situações atualmente permitidas pela lei brasileira: quando há risco de vida para a gestante, em casos de estupro e no caso de fetos anencéfalos. Sua posição conservadora nesse tema reflete um alinhamento com os valores tradicionais que ele frequentemente defende em seus programas de televisão.

Entretanto, uma das revelações mais inesperadas da entrevista foi a admissão de Datena de que não conhece bem os técnicos responsáveis por elaborar seu plano de governo. Ele afirmou que o documento que delineia suas propostas foi feito "em cima da hora", o que pode levantar dúvidas sobre a preparação e a seriedade de sua campanha.



Em sua primeira eleição após ter desistido de quatro candidaturas anteriores, Datena deixou em aberto a possibilidade de retirar sua candidatura antes do prazo final para registro, que se encerra nesta quinta-feira (15). "Com o apoio que tenho, com a condição que tenho, sem gastar muito, sem fazer campanhas milionárias, espero que o povo confie que eu vá até o fim", disse o candidato. Contudo, ele também pediu que as pesquisas parem de especular sobre sua desistência: "Espera eu desistir, pô."

A declaração de Datena sobre não cravar sua presença na urna em outubro aumenta ainda mais as incertezas em torno da corrida eleitoral em São Paulo. Embora seja uma figura popular, sua hesitação em se comprometer plenamente pode influenciar a confiança dos eleitores e aliados.

No entanto, Datena continua a ser uma figura polarizadora e influente, cuja participação ou retirada da disputa pode ter um impacto significativo no cenário eleitoral. A incerteza sobre seu futuro político, combinada com suas críticas abertas a outros candidatos, faz com que a eleição para prefeito de São Paulo permaneça imprevisível e cheia de reviravoltas.

Enquanto a cidade aguarda ansiosamente a definição das candidaturas, as palavras de Datena ressoam como um lembrete de que, no jogo político, nada está garantido até que todos os movimentos sejam feitos e as decisões finais sejam tomadas.
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