Equipe de Moraes se irritou com EUA e Interpol por causa de Allan

As recentes mensagens vazadas do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), trouxeram à tona novos desdobramentos em um dos casos mais controversos da atualidade. No sábado (17), a Folha de S.Paulo divulgou detalhes de conversas entre juízes instrutores de Moraes, revelando o crescente descontentamento da equipe do ministro com a Interpol e o governo dos Estados Unidos pela falta de ação em relação à prisão e extradição do jornalista Allan dos Santos.


Allan dos Santos, conhecido apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é investigado no âmbito dos inquéritos das milícias digitais e das fake news, conduzidos pelo STF. Acusado de ataques à democracia, ele se refugiou nos Estados Unidos para evitar ser preso no Brasil. A situação gerou uma série de pedidos por parte do governo brasileiro, comandados por Moraes, para que a Interpol emitisse um alerta vermelho e para que as autoridades americanas procedessem com a extradição do jornalista.


De acordo com as mensagens vazadas, que datam de 14 de novembro de 2022, os juízes Airton Vieira e Marco Antônio Vargas, ambos ligados a Moraes no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), discutiam as dificuldades enfrentadas para avançar com o caso. Vargas solicitou a Vieira que a Polícia Federal pressionasse a Interpol para incluir Allan dos Santos na lista de difusão vermelha, um instrumento utilizado para alertar as forças policiais internacionais sobre criminosos procurados.


Vieira, por sua vez, explicou que já havia entrado em contato com representantes da Interpol tanto no Brasil quanto em Washington, mas que nada havia sido feito. Segundo ele, o pedido do alerta vermelho estava engavetado na sede da Interpol em Lyon, França, e os reiterados pedidos feitos pela Interpol brasileira não surtiram efeito. A justificativa apresentada pela Interpol central foi que a inclusão de Allan na lista poderia estar associada a um "viés político", o que justificaria a recusa em atender ao pedido.


A situação foi classificada como "difícil" por Vieira, que destacou o inconformismo de Moraes diante do impasse. "Moraes não se conforma, com toda a razão. Mas nada podemos fazer quanto a essa questão da Interpol, assim como com a questão da extradição. Tudo o que podíamos fazer foi feito, seguimos todo o trâmite. Mas a Interpol em Lyon engavetou o pedido de alerta vermelho e os EUA não resolvem a questão da extradição. Difícil", afirmou Vieira em sua mensagem.


No entanto, foi a resposta de Marco Antônio Vargas que mais chamou a atenção. Demonstrando frustração, Vargas subiu o tom e descreveu a postura dos EUA e da Interpol como "sacanagem". Ele expressou, em tom informal, o desejo de tomar medidas extremas para trazer Allan dos Santos de volta ao Brasil. "Dá vontade de mandar uns jagunços pegar esse cara na marra e colocar num avião brasileiro", afirmou o juiz.


A revelação dessas conversas gerou imediata repercussão, especialmente entre os críticos do STF e de Alexandre de Moraes. Para muitos, as mensagens indicam um possível abuso de poder e uma tentativa de politizar a justiça, utilizando recursos extremos para atingir um alvo que, até o momento, não teve sua extradição aprovada pelos Estados Unidos. 


O caso de Allan dos Santos tornou-se um símbolo das tensões entre o governo brasileiro e as instituições internacionais. Em março deste ano, as autoridades americanas afirmaram que não extraditariam o jornalista, alegando que os crimes pelos quais ele é acusado no Brasil estão protegidos pela liberdade de expressão, um direito garantido pela Constituição dos Estados Unidos. Para os defensores de Allan, as acusações feitas contra ele são, na verdade, uma tentativa de cercear sua liberdade de opinião, algo que, segundo eles, é inaceitável em uma democracia.


A nova ordem de prisão expedida por Moraes na quarta-feira (14) contra Allan dos Santos, por supostos crimes contra a honra, ameaça e obstrução de Justiça, adiciona mais combustível a essa já inflamável situação. Críticos do STF veem na atuação de Moraes uma perseguição implacável contra o jornalista, enquanto defensores do ministro argumentam que as ações são necessárias para proteger a democracia brasileira de ataques coordenados que visam desestabilizar o sistema político.


À medida que novas informações surgem, o caso de Allan dos Santos se consolida como um dos principais focos de tensão entre o STF e setores conservadores no Brasil, que acusam a Corte de atuar de maneira parcial e politizada. Com as eleições de 2024 no horizonte, o desenrolar deste caso pode ter implicações significativas tanto no cenário político interno quanto nas relações internacionais do Brasil.

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