Na última terça-feira, 27 de agosto de 2024, Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, fez um pedido inusitado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Brasil. Durante um evento realizado no Palácio Miraflores, em Caracas, Maduro foi visto usando um boné com o símbolo do MST e, em um discurso direcionado ao líder do movimento, João Pedro Stédile, solicitou o envio de uma brigada de mil agricultores brasileiros para ajudar na produção de alimentos em terras venezuelanas. O pedido ocorreu durante a 11ª Cúpula Extraordinária da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba-TCP), que reuniu representantes de vários países e movimentos sociais na capital venezuelana.
Maduro expressou seu apreço pelo MST, destacando a importância da experiência dos brasileiros na reforma agrária e na produção agrícola. Em seu discurso, o ditador venezuelano afirmou: "Recebemos com muito carinho o Movimento Sem Terra do Brasil. Sejam bem-vindos! Convido o MST a enviar centenas de seus agricultores para a Venezuela, trazendo sua experiência para as comunas. MST, mande uma brigada de mil homens e mulheres do Brasil para trabalhar na produção em nossas terras". A fala de Maduro reflete a grave crise alimentar que há anos aflige a Venezuela, um país que já foi um dos mais prósperos da América Latina, mas que agora enfrenta uma severa escassez de alimentos, inflação descontrolada e desnutrição generalizada em sua população.
O evento no Palácio Miraflores foi parte da agenda da 11ª Cúpula Extraordinária da Alba-TCP, uma organização intergovernamental criada em 2004 por iniciativa dos governos de Cuba e Venezuela. A Alba-TCP visa promover a cooperação e a integração entre os países da América Latina e do Caribe, com foco na oposição às políticas neoliberais e ao domínio dos Estados Unidos na região. Representantes do MST participaram da cúpula, que reuniu lideranças de movimentos sociais e governos progressistas para discutir estratégias de colaboração e desenvolvimento econômico e social das comunidades mais vulneráveis.
O pedido de Maduro ao MST insere-se no contexto das dificuldades enfrentadas pela Venezuela para garantir a segurança alimentar de sua população. A agricultura no país foi devastada pela crise econômica, e a falta de insumos, infraestrutura e mão de obra qualificada tem prejudicado seriamente a capacidade de produção local. A dependência de importações de alimentos, combinada com as sanções internacionais impostas ao governo venezuelano, agrava ainda mais a situação, tornando a escassez de alimentos um problema crônico.
Nos últimos anos, o governo de Maduro tem tentado implementar um modelo de "comunas", onde comunidades autônomas são responsáveis por sua própria produção agrícola e gestão dos recursos. Essas iniciativas, no entanto, enfrentam muitos desafios e têm se mostrado insuficientes para resolver a crise alimentar no país. A solicitação ao MST para o envio de uma brigada de agricultores visa não apenas aumentar a produção em áreas específicas da Venezuela, mas também fortalecer a cooperação entre os movimentos sociais da América Latina, promovendo a solidariedade internacional em um contexto de crescente isolamento diplomático do governo venezuelano.
O pedido de Maduro rapidamente repercutiu nas redes sociais e na imprensa internacional. Enquanto alguns interpretam o gesto como uma demonstração do desespero do governo venezuelano diante da crise alimentar, outros veem na solicitação uma tentativa de estreitar os laços entre os movimentos sociais do continente e de reforçar a resistência às políticas neoliberais promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados. Até o momento, o líder do MST, João Pedro Stédile, não se pronunciou oficialmente sobre o pedido de Maduro. No entanto, a participação do movimento na cúpula e a divulgação de imagens do encontro nas redes sociais indicam que o grupo está considerando seriamente a solicitação.
Se o MST atender ao pedido de Maduro, o envio de uma brigada de mil agricultores brasileiros para a Venezuela poderá abrir um novo capítulo na colaboração entre os movimentos sociais da América Latina. No entanto, tal decisão também poderá gerar controvérsias no Brasil, onde o MST já é alvo de críticas de setores conservadores e do agronegócio. A resposta do movimento também pode ter implicações diplomáticas, afetando as relações entre o Brasil e a Venezuela, especialmente em um momento em que o governo brasileiro tenta adotar uma postura de neutralidade em relação ao regime de Maduro.
Os próximos dias serão decisivos para determinar as consequências do pedido de Nicolás Maduro e a resposta do MST. A resposta dos agricultores brasileiros, bem como a reação das autoridades brasileiras, serão fundamentais para entender o impacto dessa solicitação nas relações bilaterais e na dinâmica política regional. Em meio à crise que afeta a Venezuela, o apelo de Maduro ao MST é mais um sinal da complexa situação que o país enfrenta e das tentativas do governo de buscar soluções para os graves problemas econômicos e sociais que afligem a nação.