A possível retomada do horário de verão no Brasil voltou ao centro das discussões após a recomendação do ministro Alexandre Silveira, do Ministério de Minas e Energia, ao presidente Lula. Silveira sugeriu a reintrodução da medida como forma de economizar energia elétrica, uma questão relevante em meio à crise hídrica que o país atravessa. Agora, cabe ao mandatário a decisão final, que deve ocorrer após o término das eleições, em 27 de outubro. A notícia gerou reações em diferentes setores da sociedade, principalmente nas emissoras de TV, como a Globo, que teme impactos diretos na sua programação, especialmente na audiência de suas novelas, em particular a próxima estreia da faixa das seis, "Garota do Momento".
O impacto do horário de verão nas emissoras de TV
A possibilidade de retorno do horário de verão traz à tona um antigo desafio enfrentado pelas emissoras de televisão, que, historicamente, observam uma queda de audiência durante o período. A mudança no relógio afeta diretamente os hábitos dos telespectadores, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde a adesão ao horário de verão é mais comum. Nessas localidades, os dias mais longos fazem com que as pessoas fiquem mais tempo fora de casa, o que pode reduzir a audiência nos horários tradicionalmente dedicados às novelas e outros programas televisivos.
Essa preocupação é ainda mais relevante para a Globo, que tem sua estreia da novela das seis, Garota do Momento, prevista para novembro. A trama está programada para suceder No Rancho Fundo, que já se encontra em reta final de gravações. Segundo fontes da emissora, não há margem para antecipar ou adiar o lançamento, o que coloca a estreia diretamente no período de transição para o possível horário de verão.
Histórico de queda na audiência
A Globo tem motivos concretos para temer essa mudança. Nos últimos anos, novelas que estrearam durante o horário de verão enfrentaram dificuldades para manter índices elevados de audiência. Em 2014, por exemplo, a novela "Boogie Oogie", que começou sua exibição durante o horário de verão, registrou uma audiência abaixo do esperado, refletindo o comportamento do público em priorizar atividades ao ar livre nos longos finais de tarde.
Além disso, outro fator que complica a situação é o fato de que o horário de verão não é adotado em todo o país. As regiões Norte e Nordeste, por exemplo, não participam da mudança, o que obriga a Globo a exibir sua programação com diferentes fuso-horários em relação ao restante do país. Isso leva à necessidade de exibir a grade de forma gravada, com atrasos de uma ou mais horas, o que pode impactar a experiência do telespectador. Especialmente nas novelas, a emoção de acompanhar os capítulos simultaneamente é um fator importante para manter a atenção do público, e o delay na transmissão pode desestimular os telespectadores.
A Globo e o desafio da programação regional
Além da preocupação com a audiência, a Globo enfrenta outro dilema: como manter a sincronia de sua programação nas diferentes regiões do país, caso o horário de verão seja retomado. Tradicionalmente, as regiões Norte e Nordeste não adotam a medida, o que significa que, nessas localidades, os programas são exibidos em horários diferentes em relação ao restante do Brasil.
Essa disparidade já foi um problema no passado, quando a Globo se viu forçada a alterar o esquema de exibição de seus principais programas para atender à demanda das regiões onde o horário de verão não era aplicado. Na prática, isso significava que os telespectadores do Norte e Nordeste assistiam à programação com um atraso de uma ou duas horas, dependendo do fuso horário. Isso gerou um impacto na forma como o público dessas regiões consumia conteúdo televisivo, especialmente no que diz respeito às novelas, que dependem de um acompanhamento diário e, muitas vezes, simultâneo.
No caso de Garota do Momento, a situação pode se repetir, com a emissora sendo obrigada a realizar ajustes na exibição. No entanto, com o avanço das redes sociais e das plataformas de streaming, a desvantagem do atraso na programação fica ainda mais evidente, uma vez que o público do Norte e Nordeste poderá se deparar com spoilers e discussões online sobre episódios que ainda não foram ao ar em sua região, algo que a Globo tem procurado evitar.
O impacto da crise hídrica
A discussão sobre o retorno do horário de verão não se limita ao setor de entretenimento. O pano de fundo para essa decisão é a atual crise hídrica enfrentada pelo Brasil, que tem gerado preocupação quanto à capacidade de geração de energia. Em tempos de escassez de chuvas, as hidrelétricas, principal fonte de energia do país, têm tido dificuldades em atender à demanda crescente.
Nesse contexto, o horário de verão surge como uma das soluções possíveis para aliviar a pressão sobre o sistema elétrico, já que a medida visa aproveitar melhor a luz natural, reduzindo o consumo de energia no período noturno. O governo ainda está realizando estudos técnicos para avaliar se a reintrodução do horário de verão realmente traria os benefícios esperados. Segundo o Ministério de Minas e Energia, a decisão final será tomada após a conclusão dessas análises e deve ser implementada apenas depois do período eleitoral, para evitar sobrecarregar o calendário de decisões políticas.
Debate político e econômico
A extinção do horário de verão em 2019, sob o governo de Jair Bolsonaro, foi justificada por estudos que apontavam uma diminuição nos benefícios econômicos gerados pela medida. Segundo esses levantamentos, o impacto na redução do consumo de energia elétrica já não era tão significativo quanto em décadas passadas, em grande parte devido ao aumento do uso de aparelhos de ar-condicionado e outros eletrodomésticos.
No entanto, a atual crise hídrica pode alterar esse cenário. Especialistas indicam que qualquer economia de energia, por menor que seja, pode ser crucial neste momento, especialmente em um país com uma matriz energética fortemente dependente das chuvas. Por isso, há uma forte pressão por parte de setores envolvidos na gestão de energia para que o horário de verão seja reintroduzido.
Por outro lado, críticos apontam que o horário de verão impacta negativamente o bem-estar da população, já que a mudança no relógio pode desregular o relógio biológico das pessoas, gerando problemas de saúde como insônia e fadiga. Além disso, há dúvidas sobre se os supostos benefícios econômicos são suficientes para justificar o desconforto causado pela alteração nos hábitos diários.
A possível volta do horário de verão no Brasil envolve debates técnicos, econômicos e sociais. Enquanto o governo avalia se a medida trará os benefícios esperados em termos de economia de energia, a Globo e outras emissoras aguardam ansiosamente a decisão, temendo o impacto que a mudança pode ter na audiência de suas produções. Para a Globo, o maior desafio será garantir que sua nova novela, "Garota do Momento", consiga manter bons índices, mesmo em um cenário de incerteza e mudanças nos hábitos dos telespectadores. Agora, resta esperar para ver qual será a decisão final do presidente Lula e como ela afetará o cotidiano dos brasileiros.