A participação da Globo no Emmy Internacional de Jornalismo, realizado em Nova York na última quarta-feira (25), terminou sem prêmios para a emissora brasileira, que concorria em todas as categorias destinadas à competição internacional. A derrota expôs mais uma vez as fragilidades e limitações que a Globo tem enfrentado em sua tentativa de se manter relevante no cenário do jornalismo mundial. As emissoras do Reino Unido, Channel 4 e Sky News, foram as grandes vencedoras da noite, superando a Globo nas duas principais categorias internacionais.
O Channel 4 foi premiado na categoria de Notícias pela sua cobertura da guerra na Faixa de Gaza, um tema de grande relevância e impacto global. A produção, elogiada pela sua profundidade e pela abordagem humanitária da crise, destacou-se pela qualidade técnica e pela sensibilidade com que apresentou os conflitos na região. Já a Sky News, por sua vez, levou o prêmio de Atualidades com uma reportagem investigativa sobre a crise em Myanmar, um trabalho que revelou o sofrimento da população local em meio a uma brutal repressão militar. Ambas as produções britânicas superaram a concorrência da Globo, cujas reportagens, embora elogiadas no Brasil, não conseguiram cativar os jurados internacionais.
A cerimônia em Nova York integrou a 45ª edição do Emmy de Jornalismo e Documentário, que premia produções realizadas em inglês por emissoras norte-americanas. No entanto, apenas duas categorias são reservadas para produções de outros países, o que torna a competição internacional ainda mais acirrada. Apesar de ter sido indicada em ambas as categorias internacionais, a Globo saiu de mãos vazias, repetindo um padrão que se arrasta desde 2011, quando a emissora conquistou seu último Emmy de Jornalismo com a cobertura da retomada do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.
Neste ano, a aposta da Globo era a série de reportagens "Folha Secreta", uma produção conjunta do RJ2 e da GloboNews, que concorria na categoria de Notícias. As reportagens revelaram um esquema de pagamento de "bônus especiais" a quase metade dos funcionários da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, uma prática que configurava uma forma de enriquecimento ilícito e abuso de poder. A série foi amplamente elogiada pela imprensa brasileira e gerou grande repercussão nacional, com implicações políticas significativas para o Rio de Janeiro. Contudo, apesar do impacto local, as reportagens não foram suficientes para garantir à Globo uma vitória no Emmy, evidenciando as dificuldades da emissora em competir em um cenário internacional onde a qualidade jornalística e a relevância global parecem ser fatores decisivos.
A ausência de prêmios reflete um momento de declínio na trajetória da emissora, que outrora foi reconhecida como uma potência no jornalismo televisivo. Ao longo das décadas, a Globo acumulou prêmios e reconhecimento internacional por suas produções de qualidade, mas essa era de sucesso parece estar cada vez mais distante. O último Emmy Internacional de Jornalismo conquistado pela emissora, há mais de uma década, contrasta com as recentes derrotas que a Globo tem sofrido em eventos desse porte.
Esse revés também reforça as críticas que a emissora vem recebendo no Brasil, onde enfrenta uma série de desafios, tanto na audiência quanto na credibilidade de seu jornalismo. Nos últimos anos, a Globo tem sido alvo de questionamentos sobre a qualidade e a imparcialidade de suas coberturas jornalísticas, especialmente em temas políticos e sociais. A perda de prêmios internacionais, que outrora serviam como um símbolo de excelência, agrava ainda mais essa percepção negativa.
A crise que a Globo enfrenta não se limita apenas ao campo do jornalismo. A emissora vem perdendo espaço para novas plataformas digitais e enfrenta a crescente concorrência de serviços de streaming, além de lidar com uma reconfiguração do mercado publicitário, que tem se afastado das mídias tradicionais. Nesse contexto, a falta de prêmios no Emmy é mais um golpe em sua reputação.
O desempenho da Globo no Emmy deste ano também levanta questões sobre a qualidade e a inovação das suas produções jornalísticas. Enquanto emissoras internacionais, como o Channel 4 e a Sky News, conseguem se destacar com coberturas que trazem novas perspectivas sobre conflitos globais e crises humanitárias, a Globo parece estar presa a um jornalismo mais local e menos relevante para a audiência internacional. As histórias contadas pela Globo, embora importantes para o contexto brasileiro, podem não ter o mesmo impacto fora do país, o que limita suas chances de sucesso em competições globais.
Diante desse cenário, a emissora enfrenta o desafio de se reinventar, tanto no Brasil quanto no exterior. A derrota no Emmy não é apenas um sinal de que a Globo precisa melhorar suas produções, mas também de que ela deve buscar novas formas de contar histórias que ressoem além das fronteiras brasileiras. Se a emissora deseja recuperar seu prestígio e voltar a ser uma referência no jornalismo internacional, será necessário repensar sua abordagem e investir em inovações que a coloquem novamente no centro do cenário global.
Assim, enquanto o Channel 4 e a Sky News celebram suas vitórias no Emmy, a Globo sai derrotada e com a necessidade de refletir sobre seu futuro. O caminho para a recuperação não será fácil, mas a emissora tem a história e os recursos para buscar uma nova fase de sucesso. Contudo, será fundamental que a Globo olhe para além de seus próprios limites e busque uma renovação que vá ao encontro das expectativas de uma audiência global cada vez mais exigente.