Relator da reforma tributária no Senado e Renan são indiciados pela PF por corrupção


A Polícia Federal (PF) indiciou os senadores Eduardo Braga, líder do MDB no Senado e relator da reforma tributária, e Renan Calheiros, também do MDB, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ambos são acusados de receber propinas para favorecer pautas de interesse do grupo Hypermarcas, hoje conhecido como Hypera Pharma, no Congresso Nacional. As acusações envolvem uma soma de aproximadamente R$ 20 milhões, que teria sido repassada aos senadores por intermédio do empresário Milton Lyra, apontado pela PF como lobista do MDB.


A investigação, que já tramita há seis anos, revelou que os pagamentos eram feitos em troca de decisões políticas que beneficiariam diretamente a Hypermarcas. As evidências apontam que Milton Lyra teria sido o elo entre os parlamentares e a empresa, facilitando as negociações ilícitas e o repasse dos valores. O esquema de corrupção visava influenciar projetos de lei e medidas provisórias que afetariam o setor farmacêutico, favorecendo a Hypermarcas no mercado nacional.


O inquérito foi enviado pela PF ao Supremo Tribunal Federal (STF) no mês passado, sob sigilo, e o ministro Edson Fachin, relator do processo no STF, já encaminhou o relatório final à Procuradoria-Geral da República (PGR). A equipe do procurador-geral Paulo Gonet está analisando o material para decidir se apresentará denúncia formal contra os senadores. Caso a PGR opte por denunciar, o processo poderá seguir para o STF, que decidirá se acolherá ou não a denúncia, abrindo caminho para uma eventual ação penal.


Eduardo Braga, além de ser um dos principais nomes do MDB no Senado, está à frente da relatoria da reforma tributária, uma das pautas mais importantes e sensíveis em tramitação no Congresso Nacional. Renan Calheiros, por sua vez, é uma figura política de longa data, com diversas passagens pela presidência do Senado e forte influência nos bastidores da política brasileira. Ambos negam veementemente as acusações e alegam que se trata de uma tentativa de manchar suas imagens e enfraquecer suas atuações políticas.


A defesa dos senadores alega que não há provas concretas que sustentem as acusações da PF. Segundo seus advogados, o inquérito baseia-se em delações premiadas de pessoas que estariam tentando reduzir suas penas em outros processos e que, portanto, seus depoimentos não seriam confiáveis. Ainda segundo a defesa, as movimentações financeiras citadas pela investigação não têm qualquer ligação com atos ilícitos e seriam parte de operações legítimas e legais.


O caso envolvendo a Hypermarcas não é novo. A empresa, uma das maiores do setor farmacêutico no Brasil, já foi alvo de investigações anteriores por suspeitas de envolvimento em esquemas de corrupção com políticos e lobistas. A empresa, no entanto, tem buscado se desvencilhar das acusações, afirmando que os fatos investigados ocorreram antes de sua atual gestão e que colabora com as autoridades para esclarecer qualquer irregularidade. A Hypera Pharma, novo nome da empresa, afirma que implementou uma série de medidas de compliance e governança para garantir a transparência de suas operações e evitar novos escândalos.


O indiciamento de Eduardo Braga e Renan Calheiros representa um novo capítulo nas investigações de corrupção que têm sacudido a política brasileira nos últimos anos. Ambos são figuras centrais em seus estados e em seus partidos, com grande influência sobre as decisões no Congresso Nacional. A revelação de que estariam envolvidos em um esquema de propina de tal magnitude levanta questionamentos sobre o impacto que isso pode ter nas reformas e nos projetos em tramitação no Senado, especialmente a reforma tributária, que está sob a relatoria de Braga.


A opinião pública também tem reagido fortemente à notícia do indiciamento. Nas redes sociais, muitas críticas foram direcionadas aos senadores, que já haviam enfrentado suspeitas em casos anteriores de corrupção. Ao mesmo tempo, grupos de apoio aos parlamentares alegam que as acusações são parte de uma campanha para desestabilizar o Congresso e impedir o avanço de pautas importantes para o país.


Resta agora à Procuradoria-Geral da República decidir se dará continuidade à acusação, apresentando uma denúncia formal ao STF. Caso a denúncia seja aceita, Eduardo Braga e Renan Calheiros poderão enfrentar um processo judicial que pode resultar em graves consequências políticas e jurídicas. Se condenados, ambos poderão perder seus mandatos e direitos políticos, além de enfrentar penas de prisão. No entanto, o caminho até uma eventual condenação é longo, e ambos prometem lutar até o fim para provar sua inocência.


O cenário político brasileiro, já marcado por diversas turbulências e escândalos, parece prestes a enfrentar mais um período de incerteza, com dois dos mais influentes senadores do país no centro de um novo escândalo de corrupção. Enquanto isso, a sociedade e o Congresso aguardam os desdobramentos desse caso, que pode trazer consequências profundas para a política e para a economia do Brasil.

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