Sem plano B, campanha de Boulos se frustra com participação de Lula


 A campanha de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo enfrenta um momento de incerteza, causado pela ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em eventos previstos para alavancar a candidatura do psolista entre os eleitores da capital paulista. Sem um plano B bem estruturado, a equipe de Boulos precisa lidar com a frustração diante das poucas aparições de Lula ao lado do candidato, algo que era considerado crucial para o avanço da campanha, principalmente nos bairros de periferia, onde o apoio do presidente poderia fazer grande diferença.


Inicialmente, a campanha de Boulos previa ao menos cinco agendas conjuntas com o presidente Lula no primeiro turno, com duas dessas já realizadas em agosto: uma no Campo Limpo, na zona sul, e outra em São Mateus, na zona leste da cidade. Ambas as regiões são estratégicas para a campanha, pois abrigam grande parte do eleitorado de baixa renda, que é um dos alvos principais de Boulos. No entanto, as duas agendas programadas para setembro foram canceladas devido à viagem de Lula ao México para a posse da presidente Claudia Sheinbaum.


Esse cancelamento de última hora, a menos de uma semana do evento, gerou preocupação entre os principais estrategistas da campanha de Boulos, que contavam com a presença física de Lula para mobilizar os eleitores. A percepção é de que o uso da imagem do presidente em propagandas na TV, rádio e redes sociais já atingiu seu limite, e a participação pessoal de Lula em comícios seria um fator renovador para a campanha, fornecendo material fresco e fortalecendo o vínculo entre os dois candidatos.


A expectativa de transferência de votos de Lula para Boulos, que muitos aliados consideravam automática, não tem se concretizado da forma esperada, pelo menos até o momento. No segundo turno das eleições presidenciais de 2022, Lula conquistou 53,54% dos votos em São Paulo, contra 46,46% de Jair Bolsonaro (PL), um resultado expressivo que a campanha de Boulos esperava replicar em algum grau nas atuais eleições municipais. Contudo, as pesquisas não refletem esse movimento de transferência de votos, o que deixa os aliados de Boulos apreensivos quanto ao futuro da candidatura.


Dentro da equipe, há uma crescente discussão sobre a necessidade de um plano B para lidar com a ausência do presidente Lula. Um dos nomes sugeridos para ocupar esse espaço é o da vice na chapa, Marta Suplicy (PT), ex-prefeita de São Paulo e uma figura de destaque na política local. No entanto, Marta tem feito poucas aparições públicas até o momento, o que limita o potencial de mobilização de sua imagem junto ao eleitorado periférico.


A presença de Lula nas agendas de rua, como a planejada "Caminhada da Vitória", marcada para o dia 5 de outubro no centro da cidade, é vista como a última grande oportunidade de Boulos para impulsionar sua campanha antes do primeiro turno. Este ato público, que promete reunir Lula e Boulos em um evento de grande visibilidade, é aguardado com muita expectativa pelos apoiadores do candidato do PSOL. No entanto, a incerteza sobre a participação do presidente, que já cancelou outras agendas devido a compromissos internacionais, gera uma apreensão sobre o sucesso dessa estratégia.


Outro fator de preocupação é o desempenho do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) nas pesquisas de intenção de voto. Nunes tem liderado consistentemente entre os eleitores de baixa renda, justamente o público que a campanha de Boulos busca conquistar com a ajuda de Lula. A avaliação positiva da gestão de Nunes na prefeitura, especialmente em áreas como transporte e segurança pública, tem garantido a ele uma base sólida de apoio, dificultando a ascensão de Boulos entre esses eleitores.


Enquanto isso, publicamente, Boulos mantém o tom otimista e celebra o fato de ser o único candidato que contou com a presença de Lula em eventos de campanha até o momento. Em suas falas, o psolista destaca que a eleição em São Paulo é uma prioridade para o presidente e que a parceria entre os dois é um trunfo importante para sua candidatura. Mesmo assim, dentro da equipe de campanha, o sentimento é de que algo mais precisa ser feito para contornar a ausência física de Lula e manter o ritmo de crescimento necessário para alcançar o segundo turno.


Há também uma crítica interna sobre o ritmo da campanha, que alguns membros da coligação consideram lento, especialmente em comparação com o que foi planejado inicialmente. A falta de um plano alternativo diante da ausência de Lula, aliada à pouca visibilidade de Marta Suplicy, tem levado a questionamentos sobre a estratégia adotada até o momento. Esses desafios são agravados pelo fato de que outros candidatos têm conseguido ocupar mais espaço na mídia e nas agendas de rua, tirando o foco da candidatura de Boulos.


Apesar das adversidades, a campanha de Boulos ainda acredita no potencial de um último impulso com a participação de Lula nos dias que antecedem a votação. A chamada "Caminhada da Vitória" é vista como a chance de reconectar com os eleitores de forma mais incisiva e garantir a visibilidade necessária para a reta final do primeiro turno. No entanto, caso Lula não possa participar, a campanha precisará repensar rapidamente sua abordagem e buscar alternativas viáveis para evitar uma queda no desempenho nas urnas.


Em resumo, a campanha de Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo enfrenta um cenário de incerteza devido à ausência de Lula em eventos-chave, o que compromete a estratégia de mobilização dos eleitores de baixa renda. A falta de um plano B claro, somada à ineficácia de transferir votos do presidente para o psolista, coloca em risco a viabilidade da candidatura de Boulos. Com a aproximação do primeiro turno e a liderança de Ricardo Nunes nas pesquisas, a equipe de Boulos precisa agir rapidamente para recuperar terreno e garantir um lugar no segundo turno. A participação de Lula, ainda que incerta, continua sendo vista como essencial para alcançar esse objetivo.

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