Senador Marcos do Val toma atitude inusitada em protesto contra Moraes


Na noite de terça-feira, 3 de setembro, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) protagonizou um protesto incomum no plenário do Senado Federal, chamando a atenção de todo o país e gerando repercussão nas esferas políticas e judiciais. O ato foi uma resposta ao bloqueio de suas contas bancárias, autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como parte de uma decisão que determinou o congelamento de R$ 50 milhões em bens do parlamentar. A medida foi adotada em função do suposto descumprimento de ordens judiciais por parte de Do Val.


Com malas e sacolas em mãos, Do Val afirmou que, a partir daquele momento, passaria a dormir no Senado, uma forma dramática de demonstrar o impacto da medida judicial em sua vida pessoal. O protesto rapidamente se tornou notícia e viralizou nas redes sociais, sendo amplamente compartilhado por apoiadores e críticos do parlamentar.


A decisão que levou ao bloqueio dos bens de Marcos do Val foi emitida em agosto pelo Supremo Tribunal Federal, após o senador ser acusado de desobedecer a ordens judiciais relacionadas a investigações em curso. Como parte da decisão, Alexandre de Moraes permitiu o desbloqueio de apenas 30% do salário do parlamentar, uma quantia destinada a garantir sua "subsistência". No entanto, Do Val declarou publicamente que essa quantia é insuficiente para cobrir suas despesas básicas, incluindo alimentação e aluguel de escritório no Espírito Santo.


Em seu discurso no Senado, Do Val explicou o impacto da decisão em sua vida. "Estou vindo aqui com minhas roupas e vou ter que morar no Senado. Não no meu gabinete, porque lá é um local de trabalho, mas vou achar algum corredor e vou morar aqui, vou deitar e vou dormir até quando perceber que isso foi um pesadelo, que isso não era real", declarou o senador, visivelmente emocionado.


Durante a sessão do Senado, Marcos do Val apareceu acompanhado de malas e sacolas, simbolizando sua intenção de permanecer no local até que sua situação fosse resolvida. O ato foi documentado em imagens e vídeos divulgados nas redes sociais, incluindo postagens do deputado federal Capitão Alden (PL-BA), que exibiam o senador deitado em uma das cadeiras do plenário, cercado pelos pertences que trouxe consigo. 


A cena rapidamente se tornou simbólica, representando o descontentamento de Do Val com a decisão do STF e sua alegada incapacidade de manter um padrão de vida digno com apenas 30% de seu salário disponível. Segundo o parlamentar, ele não teria recursos suficientes nem para oferecer lanche à equipe que trabalha em seu escritório no Espírito Santo.


O protesto de Do Val gerou reações diversas no cenário político. Alguns de seus colegas de Senado demonstraram solidariedade, enquanto outros criticaram o ato como uma tentativa de desviar o foco das investigações e do suposto descumprimento de ordens judiciais. A líder do Podemos no Senado, Eliziane Gama (MA), manifestou apoio ao senador, destacando que a medida do STF foi "drástica" e que o direito à ampla defesa deveria ser respeitado.


Por outro lado, adversários políticos viram o protesto de Do Val como uma manobra midiática. "Essa teatralidade não muda o fato de que ele precisa responder às acusações e cumprir as ordens judiciais. Ninguém está acima da lei", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).


Na esfera jurídica, o bloqueio dos bens do senador faz parte de um conjunto de medidas adotadas pelo STF no combate ao descumprimento de decisões judiciais e no âmbito das investigações em curso. A decisão de Alexandre de Moraes, que incluiu o bloqueio de 70% dos vencimentos de Do Val, é vista por alguns analistas como um sinal claro de que o Supremo está endurecendo sua postura em relação a figuras públicas que tentam contornar a lei.


O protesto de Marcos do Val, além de ganhar grande atenção nas redes sociais, levantou um debate mais amplo sobre os limites do poder do Judiciário e o equilíbrio entre os direitos individuais dos parlamentares e a necessidade de cumprimento das decisões judiciais. Alguns especialistas apontam que o ato do senador pode ter efeitos políticos duradouros, especialmente entre seus apoiadores, que interpretam a medida do STF como uma perseguição política.


Ainda que o senador tenha afirmado que pretende permanecer no Senado até que "isso tudo passe", não há sinais de que o Supremo Tribunal Federal esteja disposto a reverter a decisão. Em nota, a assessoria do STF reforçou que o bloqueio dos bens foi realizado dentro dos parâmetros legais e que Marcos do Val terá a oportunidade de se defender adequadamente no processo.


O bloqueio de bens em casos como esse, segundo advogados consultados pela imprensa, é uma prática comum em situações em que há suspeita de descumprimento de ordens judiciais. No entanto, o fato de o senador não conseguir acessar a maior parte de seus recursos financeiros trouxe à tona questionamentos sobre como essas medidas afetam a vida pessoal dos envolvidos.


O uso do plenário do Senado para protestos como o de Marcos do Val também gerou controvérsias. Alguns senadores consideram que o local deve ser preservado como espaço de debates políticos e legislativos, e não como palco para manifestações de cunho pessoal. "O Senado não pode ser transformado em um cenário de protesto particular. Temos que discutir questões que afetam o país, não problemas pessoais de um parlamentar", afirmou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).


Por outro lado, os defensores de Do Val argumentam que o protesto foi uma forma legítima de chamar a atenção para o que consideram uma medida desproporcional do STF. "Se ele está sendo sufocado financeiramente por uma decisão judicial, ele tem todo o direito de expor isso publicamente", defendeu o deputado Capitão Alden, um dos principais aliados do senador.


O protesto inusitado de Marcos do Val no plenário do Senado marca um momento tenso na relação entre o Legislativo e o Judiciário, refletindo um cenário de polarização crescente na política brasileira. O senador, que se posiciona como uma figura crítica de determinadas decisões judiciais, encontrou na manifestação uma maneira de expressar sua insatisfação, ainda que tenha sido alvo de críticas por seu método.


Enquanto o desfecho dessa situação permanece incerto, o episódio certamente deixará marcas na trajetória política de Do Val e no debate sobre os limites de atuação dos poderes constituídos no Brasil.
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