A falsa sinalização de virtude não salvará os democratas


 A cobertura das eleições americanas feita pela grande mídia brasileira segue um roteiro já conhecido, apresentando os democratas como figuras heroicas carregadas de humanismo e os republicanos como vilões. Esse maniqueísmo é amplamente difundido, mesmo que parte significativa da imprensa tenha uma postura secular e antirreligiosa. A polarização política, com Donald Trump no centro das atenções, não é uma novidade exclusiva do ex-presidente republicano. Anteriormente, outros líderes conservadores, como George W. Bush, também enfrentaram críticas ferozes, embora sua submissão ao mainstream esquerdista tenha suavizado sua imagem ao longo do tempo.


O embate atual entre Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris não foge ao que já se viu antes. A grande mídia amplifica o fato de Harris ser uma mulher negra, o que proporciona um terreno fértil para discursos identitários que, segundo críticos, já estão desgastados. Para aqueles que observam o cenário político com mais ceticismo, o gênero e a cor de Kamala são irrelevantes. O que deveria importar, argumentam, são suas qualidades para o cargo que disputa, e não fatores superficiais.


Esse discurso politicamente correto encanta jornalistas que deixam de informar e passam a promover uma agenda ideológica, além de ressoar entre jovens universitários que, supostamente, estudam pouco e se engajam mais em causas de fachada. A crítica é ácida: a cobertura das eleições não reflete a realidade das preocupações das pessoas comuns, mas sim uma narrativa fabricada que ecoa em bolhas ideológicas.


Em meio ao mar de informações e desinformações, é difícil encontrar uma fonte totalmente confiável. No entanto, para quem quer acompanhar as pesquisas eleitorais nos Estados Unidos, o Real Clear Politics surge como uma opção. De acordo com os dados dessa plataforma, o panorama não é favorável para Kamala Harris. Trump lidera em todos os estados-chave, conhecidos como "swing states", que podem pender para um lado ou outro conforme as circunstâncias. O mais surpreendente é o avanço de Trump até mesmo em Nevada, um estado que tradicionalmente vota nos democratas desde 2008.


Se as previsões do Real Clear Politics estiverem corretas, Trump poderá conquistar 312 votos no Colégio Eleitoral, sendo que apenas 270 são necessários para vencer. As razões para essa vantagem são variadas, mas uma delas é o legado do atual presidente Joe Biden, que muitos consideram um fracasso.


Biden foi eleito com a promessa de restaurar a normalidade após uma eleição altamente controversa, mas sua popularidade despencou, atingindo apenas 40% de aprovação. Entre os principais fatores que afetam sua imagem estão o aumento no custo de vida provocado pela inflação, a saída caótica do Afeganistão, a crise na imigração ilegal e a geopolítica global, que vê os Estados Unidos envolvidos em dois conflitos impulsionados por adversários históricos. O que se esperava como uma gestão madura e estável acabou sendo o oposto. E Kamala Harris, como vice-presidente, foi parte integrante desse governo, o que explica a falta de entusiasmo em torno de sua candidatura.


A própria campanha de Kamala Harris reflete o desespero da ala democrata. O ex-presidente Barack Obama, por exemplo, recorreu ao discurso de que muitos eleitores temem uma mulher na presidência, apelando para uma narrativa de vitimização. Isso soa familiar para quem acompanhou a eleição de 2016, quando Hillary Clinton tentou usar uma estratégia semelhante, chamando os apoiadores de Trump de "deploráveis". O vitimismo, no entanto, não é suficiente para mascarar os problemas de fundo. Obama, que muitos idolatram, também deixou um legado controverso, aumentando a dívida pública e passando por cima de órgãos como o Congresso e até mesmo a ONU ao intervir na Líbia.


A grande mídia americana, assim como a brasileira, também se engaja em tentar salvar a imagem de Kamala Harris. Um exemplo recente foi a entrevista que ela deu ao programa "60 Minutes" da CBS. O canal editou a entrevista para suavizar sua imagem e torná-la mais palatável ao público. No entanto, a FOX News, com todos os seus problemas, exibiu a entrevista sem cortes, mostrando uma versão mais autêntica de Kamala, que, segundo críticos, foi um desastre. A vice-presidente, quando despojada das manipulações da mídia, não conseguiu convencer o público de sua competência para ocupar o cargo mais importante do país.


Esse episódio é mais uma evidência da morte do jornalismo tradicional, que tem sido substituído por uma militância política clara e alinhada com o progressismo. A tentativa de moldar a percepção pública através da sinalização de virtudes e do revisionismo midiático só reforça a desconfiança crescente em relação à cobertura das eleições nos Estados Unidos, tanto dentro quanto fora do país.
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