Amedrontados, petistas já pensam na estratégia de Bolsonaro para 2026


 Lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT) acreditam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), embora inelegível até 2030, poderá adotar em 2026 uma estratégia inspirada na ação de Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. Naquele ano, mesmo preso e impedido de concorrer, Lula registrou sua candidatura à Presidência da República no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), movimento que foi posteriormente rejeitado pela Justiça Eleitoral. No entanto, tal registro permitiu que ele projetasse seu então vice, Fernando Haddad, como candidato no seu lugar. A expectativa entre os petistas é de que Bolsonaro tente repetir essa manobra, registrando sua candidatura mesmo sabendo que será indeferida pelo TSE.


Para os analistas do PT, essa estratégia de Bolsonaro seria “inteligente” do ponto de vista eleitoral, pois criaria uma narrativa de vítima do sistema e fortaleceria seu nome e sua imagem junto ao eleitorado bolsonarista, que ainda é significativo. Com a candidatura indeferida, Bolsonaro poderia transferir votos para seu sucessor na chapa, o que poderia garantir a este uma posição de destaque no primeiro turno e aumentar suas chances de ir ao segundo. Há um consenso de que, com o apoio direto de Bolsonaro, o substituto na chapa teria mais força política e eleitoral, além de atrair os fiéis eleitores bolsonaristas que, sem essa ligação formal, poderiam dispersar seus votos para outros candidatos de direita.


Essa possível movimentação de Bolsonaro tem gerado apreensão em diversas correntes políticas. No campo da direita e centro-direita, alguns líderes avaliam que uma candidatura indireta do ex-presidente pode dificultar a viabilidade de outros nomes que almejam protagonismo no cenário eleitoral de 2026. Governadores como Ronaldo Caiado (União Brasil), que tem se posicionado como um nome forte e de centro-direita, têm expressado preocupação sobre a influência de Bolsonaro nas eleições, mesmo sem sua candidatura formal. Seus aliados temem que Bolsonaro, mesmo inelegível, ainda terá um papel de destaque nas eleições e poderá fragmentar o campo da direita, dificultando a formação de um bloco unido capaz de enfrentar a esquerda.


Essa incerteza quanto ao comportamento de Bolsonaro em 2026 também cria um clima de divisão entre partidos de centro-direita e conservadores, que tentam se organizar para as próximas eleições. A candidatura de Bolsonaro, mesmo que não formal, ainda pode centralizar o debate político, deslocando a atenção de outros candidatos desse espectro ideológico. Para alguns desses setores, a estratégia de Bolsonaro, além de ser um desafio para a própria direita, poderia facilitar o caminho de uma vitória da esquerda, caso divida as forças conservadoras e moderadas em diferentes frentes de disputa.


Por outro lado, dentro do próprio bolsonarismo, a aposta é de que, ao tentar se candidatar, Bolsonaro reforçará sua imagem de líder popular perseguido pelas instituições e pela Justiça, narrativa que tem sido amplamente utilizada por ele e seus apoiadores desde o início de sua inelegibilidade. Seus aliados mais próximos defendem que o movimento poderia trazer força para a chapa bolsonarista, consolidando a base eleitoral que o elegeu em 2018 e mantendo-a coesa e mobilizada. Para eles, o apoio de Bolsonaro, mesmo de forma indireta, poderia ser decisivo para impulsionar um eventual substituto, especialmente se esse nome já tiver trânsito entre os eleitores conservadores.


No entanto, críticos dessa estratégia dentro da direita alertam que a insistência de Bolsonaro em manter sua presença no cenário eleitoral pode impedir a renovação política dentro desse campo, o que, a longo prazo, poderia ser prejudicial para o próprio bolsonarismo. Eles argumentam que seria mais eficaz para o ex-presidente apoiar desde já um nome que represente seus ideais, mas que tenha condições de concorrer efetivamente em 2026, permitindo uma transição política mais suave e garantindo a continuidade de seu legado sem os riscos de uma eventual fragmentação do eleitorado conservador.


Enquanto isso, a esquerda e partidos mais próximos ao centro também observam os desdobramentos desse possível movimento com cautela. Para eles, a manobra pode ser perigosa, mas também é vista como um indicativo de que Bolsonaro reconhece sua incapacidade de concorrer diretamente. Embora essa estratégia possa fortalecer o bolsonarismo no curto prazo, setores da esquerda acreditam que o desgaste da figura de Bolsonaro após seu governo e sua inelegibilidade podem ser fatores que limitariam o impacto de uma candidatura indireta, especialmente em um cenário onde a rejeição ao ex-presidente ainda permanece significativa.


Em meio a esse cenário, o campo político já começa a se movimentar, ciente de que, mesmo inelegível, Bolsonaro poderá ter um papel decisivo nas eleições de 2026, seja como candidato ou como um importante influenciador político nos bastidores da disputa residencial.

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