Na noite desta quinta-feira (3), o debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, transmitido pela Rede Globo, ganhou um tom acalorado quando Pablo Marçal (PRTB) chamou Guilherme Boulos (PSOL) de “socialista de iPhone”. A provocação foi uma das muitas trocas de farpas que têm marcado a campanha eleitoral, especialmente entre esses dois candidatos que representam campos políticos antagônicos.
A declaração de Marçal não foi a única alfinetada da noite. Ele aproveitou o espaço para criticar duramente as políticas defendidas por Boulos, questionando sua proposta de descriminalizar as drogas e sugerindo que o candidato psolista estaria desconectado da realidade da população paulistana.
Marçal afirmou: “Você imagina alguém falando que quer descriminalizar a polícia e as drogas, que deve conhecer melhor a cidade na questão de ‘biqueiras’. Se você quer uma cidade segura, como vai votar num cara do PSOL?”. A referência a “biqueiras” — gíria popular para pontos de venda de drogas — visava criticar as políticas progressistas de Boulos em relação à segurança pública.
Resposta rápida e firme
Guilherme Boulos, conhecido por seu temperamento combativo, não deixou as acusações passarem em branco. Em resposta às insinuações de Marçal sobre seu suposto uso de drogas, Boulos apresentou um exame toxicológico durante o debate. Mesmo sem poder exibir o documento na televisão, devido às regras impostas pela Globo, o candidato afirmou que o resultado seria publicado em suas redes sociais.
“Para encerrar de uma vez por todas esse tipo de acusação, fiz um exame toxicológico e ele já está subindo nas minhas redes sociais. Faça o seu, Marçal, e faça também um exame psicotécnico”, disparou Boulos, aludindo à saúde mental de seu adversário.
A publicação do exame toxicológico gerou repercussão imediata nas redes sociais, onde os seguidores de Boulos o apoiaram e elogiaram sua postura. No entanto, a campanha do candidato decidiu limitar os comentários em seu Instagram apenas para seus seguidores, o que foi criticado por alguns setores, que viram na atitude uma tentativa de evitar questionamentos.
Conflito entre ideologias
A troca de acusações entre Pablo Marçal e Guilherme Boulos reflete a polarização que tem dominado a corrida eleitoral para a Prefeitura de São Paulo. De um lado, Boulos, candidato do PSOL, carrega a bandeira de uma cidade mais inclusiva, com foco em políticas sociais voltadas para a população periférica. Suas propostas incluem a regularização de moradias em áreas de risco, aumento de investimentos em saúde pública e um modelo de segurança mais humanizado.
Por outro lado, Marçal tem adotado um discurso fortemente conservador, defendendo a manutenção da ordem pública e a valorização das forças de segurança. Ele também se apresenta como um empreendedor de sucesso, com um discurso voltado para a iniciativa privada e para a redução do papel do Estado na economia.
Essa dicotomia entre o progressismo de Boulos e o conservadorismo de Marçal tem mobilizado eleitores de ambas as correntes, mas também gerado tensões, especialmente em um contexto de crise econômica e aumento da criminalidade em São Paulo.
As redes sociais no centro da disputa
A guerra de narrativas entre os dois candidatos não se restringe aos palcos dos debates. As redes sociais têm desempenhado um papel crucial na estratégia de campanha de ambos. Enquanto Boulos mobiliza grande parte de sua base de eleitores através do Instagram e do Twitter, onde seus discursos sobre justiça social e igualdade ganham força, Marçal utiliza o YouTube e outras plataformas digitais para promover sua imagem de “outsider” e empresário bem-sucedido.
Entretanto, o uso intensivo das redes também tem gerado controvérsias. A limitação de comentários na publicação do exame toxicológico de Boulos foi vista como uma tentativa de controlar o discurso, o que contrastaria com seu apelo por mais transparência e participação popular. Marçal, por sua vez, tem sido acusado de usar as plataformas para disseminar desinformação e ataques pessoais, sem se preocupar em aprofundar o debate sobre políticas públicas.
O papel da mídia e o impacto dos debates
Os debates televisivos, especialmente os transmitidos em rede nacional como o da Globo, continuam sendo uma plataforma importante para a exposição dos candidatos, mas também para a formação de opinião entre os eleitores. No entanto, especialistas em comunicação política apontam que, cada vez mais, a repercussão desses debates nas redes sociais é o que realmente define o impacto que eles terão sobre a opinião pública.
Neste sentido, tanto Marçal quanto Boulos demonstraram um domínio estratégico das mídias digitais, utilizando-se dos momentos mais tensos do debate para gerar engajamento nas redes. Marçal, por exemplo, capitalizou a expressão “socialista de iPhone”, que rapidamente se tornou um dos assuntos mais comentados no Twitter. Por outro lado, Boulos transformou o ataque pessoal em uma oportunidade para reafirmar seu compromisso com a verdade e a transparência.
Previsões para o futuro da campanha
Com as eleições de 2024 se aproximando, a disputa pela Prefeitura de São Paulo promete ficar ainda mais acirrada. Pesquisas recentes apontam um cenário de grande volatilidade, com Pablo Marçal, Guilherme Boulos e Ricardo Nunes (MDB) disputando palmo a palmo a preferência do eleitorado.
O crescimento de Marçal nas pesquisas tem chamado a atenção de analistas políticos, que veem no empresário uma figura capaz de mobilizar o eleitorado conservador e insatisfeito com a política tradicional. No entanto, Boulos também apresenta uma forte base de apoio, especialmente entre os jovens e moradores das periferias, que veem em suas propostas uma oportunidade de mudança estrutural.
Enquanto isso, Ricardo Nunes tenta manter-se competitivo, apostando em uma campanha menos polarizada e focada na continuidade das políticas de Bruno Covas. No entanto, a crescente tensão entre Boulos e Marçal pode atrair ainda mais os holofotes, transformando a eleição em uma disputa entre extremos.
O debate entre Pablo Marçal e Guilherme Boulos na Globo foi apenas mais um episódio da intensa batalha pela Prefeitura de São Paulo, marcada por trocas de acusações e confronto ideológico. Com as redes sociais amplificando cada declaração, os eleitores paulistanos devem se preparar para uma reta final de campanha ainda mais acirrada, onde as questões de segurança, economia e justiça social estarão no centro das discussões.
À medida que as eleições de 2024 se aproximam, resta saber qual narrativa prevalecerá e se os eleitores optarão por uma mudança radical, representada por Marçal ou Boulos, ou por um caminho mais moderado e de continuidade, oferecido por Nunes. Uma coisa é certa: a cidade de São Paulo segue dividida, e o futuro da maior metrópole do Brasil está em jogo.