Nos últimos dias, uma intensa troca de farpas entre o pastor Silas Malafaia e o ex-presidente Jair Bolsonaro dominou o noticiário político e religioso. Os ataques do pastor, conhecido por suas posições contundentes e sua influência no meio evangélico, miraram diretamente Bolsonaro, gerando grande repercussão. Em resposta, o senador Flávio Bolsonaro defendeu a postura de seu pai, afirmando que o líder religioso ultrapassou os limites ao expor detalhes de conversas privadas e ao criticar de forma desnecessária a atuação do ex-presidente nas eleições municipais de São Paulo.
O início dos ataques
Tudo começou quando Malafaia, em declarações públicas, questionou a liderança de Jair Bolsonaro, acusando-o de ter "medo" de se posicionar nas eleições de São Paulo. O pastor, que já foi um forte aliado de Bolsonaro, fez duras críticas ao ex-presidente, insinuando que ele teria se omitido para não enfrentar uma possível derrota para Pablo Marçal, um candidato emergente que ameaça a hegemonia do campo conservador. Em um de seus discursos mais inflamados, Malafaia chegou a perguntar: "Que porcaria de líder é esse que tem medo de perder?".
Essas declarações acenderam um alerta no campo bolsonarista. Malafaia, que historicamente apoiou o ex-presidente e mobilizou milhões de evangélicos a seu favor, parecia agora se distanciar e, mais do que isso, lançar dúvidas sobre a capacidade de Bolsonaro de liderar o movimento conservador no Brasil. A crítica do pastor não se limitou apenas ao suposto medo de Bolsonaro em apoiar certos candidatos, mas também sugeriu que o ex-presidente estava se afastando das bases que o elegeram.
Flávio Bolsonaro responde
O senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do ex-presidente, não demorou a rebater os ataques. Em declarações à imprensa, Flávio foi categórico ao criticar a postura de Malafaia, afirmando que certos assuntos deveriam ser tratados de forma privada, e não em praça pública. "Roupa suja se lava em casa. O Silas expôs intimidade das nossas conversas, e é esse tipo de atuação que encolhe o nosso campo", disparou o senador.
Flávio também defendeu a postura de seu pai nas eleições municipais de São Paulo. Para o senador, Jair Bolsonaro agiu corretamente ao escolher seu caminho durante o pleito, ressaltando que o ex-prefeito Ricardo Nunes conseguiu chegar ao segundo turno, o que, na visão dele, comprova que a estratégia foi acertada. "Meu pai fez o que tinha que ser feito. Ele não foi omisso, apenas escolheu a melhor forma de atuar naquele momento. Tanto que Ricardo Nunes está no segundo turno", explicou Flávio.
Malafaia e Bolsonaro: uma relação abalada?
A relação entre Silas Malafaia e Jair Bolsonaro sempre foi marcada por altos e baixos. Durante a campanha presidencial de 2018, o pastor foi um dos principais apoiadores de Bolsonaro, mobilizando sua base de fiéis em prol da candidatura do então deputado federal. Com sua oratória contundente e influência no meio evangélico, Malafaia ajudou a consolidar a imagem de Bolsonaro como o candidato dos valores cristãos e conservadores, o que foi fundamental para sua vitória.
Entretanto, nos últimos anos, a relação parece ter se desgastado. Enquanto Bolsonaro passou a focar mais em alianças políticas e em uma postura mais moderada em alguns temas, Malafaia manteve seu estilo mais agressivo e intransigente, especialmente em relação a questões políticas e morais. Esse descompasso culminou nos recentes ataques públicos do pastor ao ex-presidente.
Para analistas políticos, os ataques de Malafaia podem ter motivações que vão além da divergência sobre as eleições em São Paulo. Alguns apontam que o pastor estaria insatisfeito com o espaço que seu segmento está perdendo dentro do campo bolsonarista. "A estridência dos ataques de Malafaia é totalmente desnecessária. Fica parecendo que esconde outros interesses", disse um analista, que preferiu não se identificar.
O impacto no campo conservador
O embate entre Malafaia e Bolsonaro revela fissuras dentro do movimento conservador brasileiro. Durante anos, esse campo político conseguiu se manter unido em torno de Bolsonaro, que foi visto como o principal líder capaz de representar os interesses da direita e dos evangélicos. No entanto, com o passar do tempo e as mudanças no cenário político, surgiram novas lideranças e novos desafios, o que tem causado tensões dentro do grupo.
Pablo Marçal, mencionado por Malafaia em suas críticas a Bolsonaro, é um desses novos nomes que emergiram no cenário conservador. Empresário e coach motivacional, Marçal conquistou uma base significativa de apoiadores, especialmente entre os evangélicos mais jovens. Sua ascensão, entretanto, incomodou lideranças mais tradicionais, como Malafaia, que veem nele uma ameaça ao controle que exercem sobre esse eleitorado.
As eleições municipais de São Paulo foram um exemplo claro desse novo cenário. Com vários candidatos disputando o apoio do eleitorado conservador, Bolsonaro optou por não se envolver diretamente em algumas disputas, o que gerou críticas de seus antigos aliados. Para eles, o ex-presidente deveria ter se posicionado com mais firmeza, especialmente em momentos de polarização como o atual.
As consequências para o futuro
A troca de acusações entre Malafaia e Bolsonaro pode ter consequências profundas para o futuro do campo conservador. De um lado, Malafaia representa um segmento importante do eleitorado evangélico, que é crucial para qualquer candidato de direita no Brasil. De outro, Bolsonaro ainda é a principal liderança desse grupo e, apesar das críticas, continua sendo o nome mais forte para as eleições de 2026.
No entanto, a fragmentação desse campo pode abrir espaço para novos nomes, como Pablo Marçal, que têm crescido em popularidade. Se Malafaia continuar a atacar Bolsonaro publicamente, pode enfraquecer a coesão do movimento conservador e prejudicar as chances do ex-presidente de retomar o poder em 2026.
Flávio Bolsonaro, por sua vez, tentou colocar panos quentes na situação, mas deixou claro que a família Bolsonaro não está disposta a tolerar ataques públicos de seus antigos aliados. "O que precisamos agora é de união, e não de ataques desnecessários", concluiu o senador.
Considerações finais
O embate entre Silas Malafaia e Jair Bolsonaro evidencia um momento de crise dentro do movimento conservador brasileiro. O pastor, que foi um dos principais apoiadores de Bolsonaro, agora parece estar se distanciando, lançando dúvidas sobre a capacidade do ex-presidente de liderar o movimento nas próximas eleições. Por outro lado, a defesa veemente de Flávio Bolsonaro mostra que a família Bolsonaro está disposta a responder às críticas e manter sua liderança no campo conservador.
O futuro do movimento, no entanto, dependerá da capacidade de seus líderes de resolverem suas diferenças e se unirem em torno de um projeto comum. Caso contrário, o campo conservador pode acabar se fragmentando, abrindo espaço para novas lideranças e novas divisões.