O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em uma conversa com jornalistas realizada na manhã deste domingo. Bolsonaro, que tem intensificado suas declarações contra figuras do Judiciário, referiu-se especificamente a uma operação recente da Polícia Federal (PF) contra o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), realizada na última sexta-feira, 25 de outubro. A operação tem como objetivo investigar supostas irregularidades envolvendo desvios de recursos públicos destinados a empresas privadas, e, segundo Bolsonaro, é mais um exemplo de ações que considera “parciais e direcionadas”.
Na conversa, Bolsonaro demonstrou descontentamento com o que classificou como um padrão de atuação que, segundo ele, se repetiria nos casos envolvendo a direita. Para o ex-presidente, a operação contra Gayer foi uma “precipitação”, levando-o a levantar suspeitas sobre o papel de Moraes. “Não está colando mais esse tipo de ação. E caiu, para variar, com o mesmo ministro do Supremo. Sempre ele, sempre o mesmo”, afirmou. Na visão de Bolsonaro, as investigações e decisões do STF, em casos envolvendo figuras públicas de direita, têm seguido uma linha que ele acredita ser excessivamente rigorosa e politizada.
O deputado Gustavo Gayer, alvo da operação mencionada, é uma figura ativa no cenário político e tem se destacado no Congresso por seu posicionamento firme em defesa do ex-presidente Bolsonaro e suas críticas ao governo atual. A investigação em questão apura se recursos públicos foram utilizados de maneira inadequada para beneficiar determinadas empresas, fato que Gayer e seus advogados contestam. Bolsonaro questionou a legalidade e a necessidade da operação, sugerindo que houve uma intenção de manchar a imagem de figuras ligadas ao campo político conservador. Ele criticou a ausência de investigações equivalentes contra políticos da esquerda, o que, segundo ele, seria uma evidência de seletividade na aplicação da lei.
Bolsonaro foi ainda mais incisivo ao sugerir que o Judiciário estaria sendo utilizado como um instrumento para perseguir opositores políticos, principalmente aqueles que se alinham à direita. “Só tem em cima da direita, em cima da esquerda não tem nada”, declarou, reafirmando seu ponto de vista de que o STF e, em particular, o ministro Alexandre de Moraes estariam aplicando um “peso diferente” nas investigações, dependendo da inclinação política dos envolvidos. Para ele, essa situação reforça uma narrativa de perseguição judicial e de censura política, uma tese que tem encontrado eco entre seus apoiadores e políticos da oposição.
Desde o início de seu mandato, Moraes tem desempenhado um papel de destaque em investigações relacionadas a ataques à democracia e à integridade eleitoral, bem como a conteúdos considerados falsos ou difamatórios nas redes sociais. Ele também tem sido relator de inquéritos polêmicos, que envolvem diversos apoiadores de Bolsonaro. O ex-presidente e seus aliados frequentemente argumentam que essas ações representam um cerceamento das liberdades de expressão e de opinião política, e Bolsonaro reiterou que continuará a defender uma “reforma” do Judiciário, para que casos como esses sejam tratados de forma “mais justa e equilibrada”.
Ainda na conversa com jornalistas, Bolsonaro voltou a falar da necessidade de revisão de determinadas normas jurídicas e de mudanças no STF, sem dar detalhes específicos sobre que tipo de alterações defendia. No entanto, o tema é recorrente em suas falas desde que deixou o cargo, e as críticas ao STF e ao Judiciário, em geral, têm sido vistas como parte de uma estratégia política para manter sua base de apoio engajada e mobilizada em torno da ideia de que as instituições brasileiras necessitam de reformulação.
O ministro Alexandre de Moraes, por outro lado, não fez comentários sobre as declarações de Bolsonaro. Em situações anteriores, Moraes já havia manifestado que o Supremo atua dentro dos parâmetros constitucionais e que decisões envolvendo políticos ou figuras públicas de qualquer espectro político são tomadas com base em critérios técnicos e jurídicos. O ministro é visto por muitos como um defensor da ordem institucional e da democracia, tendo assumido posturas firmes contra atos que considera ameaças às instituições democráticas do país.
As declarações de Bolsonaro geraram repercussão imediata nas redes sociais e entre seus seguidores, que frequentemente criticam as ações do STF e de Moraes. Aliados de Bolsonaro, incluindo parlamentares e líderes de movimentos conservadores, usaram suas plataformas para reiterar as acusações de que o Judiciário tem sido parcial e que suas decisões estão prejudicando o direito de defesa de representantes da direita. Para alguns deles, as investigações e operações recentes demonstram um viés político e um abuso de autoridade, o que justificaria, segundo esses críticos, uma reforma profunda nas estruturas do Judiciário.
O episódio também evidencia a continuidade de um embate entre Bolsonaro e o STF, especialmente com Alexandre de Moraes, que se intensificou ao longo do último ano do mandato de Bolsonaro e continua após ele deixar a presidência. A disputa entre os dois tem sido marcada por confrontos públicos, com Bolsonaro reiterando suas críticas e Moraes mantendo suas posições e decisões com base nos processos em andamento. Este conflito entre Executivo e Judiciário, ou mais especificamente entre Bolsonaro e figuras do STF, vem ganhando cada vez mais espaço na opinião pública e contribuindo para a polarização política do país.
Bolsonaro encerrou sua fala sem indicar se tomará alguma ação concreta em relação ao caso de Gustavo Gayer, mas enfatizou que continuará denunciando o que considera uma perseguição e uma tentativa de silenciar a oposição. Ao longo dos próximos dias, espera-se que a discussão sobre a relação entre o Judiciário e a liberdade de expressão continue gerando debates acalorados na sociedade brasileira, especialmente entre aqueles que apoiam e os que criticam o papel de Alexandre de Moraes no cenário político atual.