O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, parece se esquivar de assumir responsabilidade por seus erros e fracassos, uma prática recorrente em sua trajetória política. Em vez de reconhecer suas próprias falhas, ele tende a terceirizar a culpa, direcionando-a para aliados ou subordinados. Essa estratégia, que envolve atribuir a outros as falhas de gestão, os deslizes em sua atuação política e até mesmo escândalos de corrupção, tem sido uma marca registrada de sua postura diante de adversidades.
No contexto das eleições municipais de 2024, a situação não é diferente. O Partido dos Trabalhadores (PT) sofreu um duro revés nas urnas, e Lula, ao invés de refletir sobre as estratégias adotadas ou reconhecer seus próprios equívocos, parece estar buscando uma maneira de afastar a responsabilidade de si mesmo. Um dos alvos dessa manobra é a atual presidente do partido, Gleisi Hoffmann. A liderança de Gleisi, que já havia enfrentado desafios significativos em anos anteriores, está sendo colocada em xeque após o insucesso do partido nas eleições municipais, em que várias cidades importantes foram perdidas.
Lula, que sempre foi hábil em manobras políticas, já deu sinais claros de que deseja apressar a substituição de Gleisi à frente do PT. Embora a saída da deputada estivesse originalmente prevista para acontecer entre abril e maio de 2025, o ex-presidente já comunicou a interlocutores que pretende antecipar essa troca. A intenção de Lula é clara: preparar o terreno para que uma nova liderança, vista como mais eficaz e capaz de restaurar a força do partido, assuma o comando o quanto antes.
O nome mais cotado para suceder Gleisi Hoffmann é o do atual prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Edinho, que é um aliado próximo de Lula e tem uma longa trajetória dentro do PT, é visto pelo ex-presidente como alguém que pode reverter o desgaste da legenda e, quem sabe, operar o que muitos no partido estão chamando de um "milagre" político. A esperança de Lula é que, com Edinho no comando, o partido possa se reestruturar e recuperar a força perdida, especialmente após o fiasco das últimas eleições.
No entanto, mesmo Edinho Silva enfrenta desafios em sua própria base. Um dos fracassos mais dolorosos para o PT nas eleições de 2024 foi justamente em Araraquara, onde a candidata apoiada por Edinho foi derrotada pelo representante do ex-presidente Jair Bolsonaro. A derrota na cidade, que é um reduto histórico do PT e uma base de apoio importante para o prefeito, foi particularmente sentida pelos membros da legenda. Mesmo com o investimento massivo de recursos na campanha, incluindo apoio financeiro significativo do próprio Lula, a vitória escapou das mãos do partido, reforçando a necessidade de uma mudança de rumos.
A troca antecipada na presidência do PT, contudo, ainda depende de uma decisão formal. Está prevista para acontecer uma reunião da Executiva Nacional do partido em novembro, onde será discutida a possível antecipação da posse do novo líder. É nesse encontro que Lula deverá pressionar pela escolha de Edinho Silva como o novo presidente, acreditando que ele poderá trazer uma nova dinâmica para o partido e revitalizar suas bases antes das próximas disputas eleitorais.
A relação entre Lula e Gleisi Hoffmann, embora marcada por uma colaboração política sólida ao longo dos anos, parece estar em um momento de desgaste. A presidente do PT tem enfrentado críticas dentro do partido por sua condução durante as eleições municipais, e o próprio Lula, sempre atento às movimentações internas, parece disposto a sacrificar sua aliada em busca de uma reestruturação que, ao seu ver, pode salvar o PT de uma derrocada ainda maior nas eleições futuras.
Lula, que construiu sua imagem pública como um líder próximo ao povo e defensor das causas trabalhistas, continua se movendo com astúcia no tabuleiro político. No entanto, sua dificuldade em assumir responsabilidade por erros que ocorrem sob sua liderança é um fator que tem gerado frustrações entre setores do partido e entre seus críticos. A escolha de Edinho Silva, portanto, não é apenas uma mudança de liderança, mas uma tentativa de Lula de redirecionar as críticas que tem recebido, deslocando o foco de suas próprias falhas para um novo capítulo na história do PT.
A decisão final sobre a antecipação da troca na presidência do partido, e a possível escolha de Edinho como sucessor de Gleisi, será fundamental para definir os rumos do PT nos próximos anos. Com um cenário político cada vez mais polarizado e a crescente força de adversários como Jair Bolsonaro, Lula sabe que a margem para erros é cada vez menor. Agora, resta ver se essa estratégia será suficiente para reverter a maré desfavorável que se abateu sobre o partido.