As eleições municipais de 2024 trouxeram à tona um quadro crítico para o Partido dos Trabalhadores (PT), especialmente em São Paulo, onde o partido viu sua influência diminuir drasticamente. Os resultados eleitorais foram desanimadores para a legenda, marcando um desempenho inferior ao obtido em 2016 e 2020 — dois momentos particularmente difíceis, quando o PT ainda enfrentava os efeitos do impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva. A insatisfação e as divergências internas agora parecem se intensificar, revelando uma divisão cada vez mais visível dentro do partido, que enfrenta desafios complexos para se manter relevante no cenário político brasileiro.
Um dos episódios mais marcantes deste pós-eleição foi o desabafo do ministro Alexandre Padilha, titular da Secretaria de Relações Institucionais do governo Lula, ao avaliar o desempenho da legenda nas urnas. Em uma comparação inesperada e impactante, Padilha afirmou que o PT parece estar na "zona de rebaixamento", termo que remete aos times de futebol que ficam nas últimas colocações de um campeonato. A declaração de Padilha gerou uma onda de repercussões e revelou uma tensão crescente entre as principais figuras da legenda, como Gleisi Hoffmann, que não hesitou em responder publicamente às palavras do ministro.
Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, rebateu duramente a declaração de Padilha, demonstrando irritação com o comentário do colega de partido. Em suas palavras, a dirigente destacou que o partido está enfrentando dificuldades decorrentes de um cenário político altamente polarizado e de uma ofensiva da extrema-direita, o que teria contribuído para o fraco desempenho eleitoral. Segundo Gleisi, ao invés de contribuir com críticas públicas, Padilha deveria focar nos desafios das articulações políticas do governo federal, que, na visão dela, foram responsáveis em parte pelo desempenho eleitoral do PT.
A presidente do partido ressaltou ainda que o PT tem pagado um preço alto por estar em um governo de ampla coalizão. Em sua avaliação, é essa aliança que impede o partido de se fortalecer e consolidar sua base eleitoral em um cenário dominado por forças de centro e direita no Congresso. "Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças", afirmou Gleisi. Em uma crítica direta à postura de Padilha, ela sugeriu que ele deveria ter mais respeito com o partido, lembrando a luta pelo "Lula Livre" e pela candidatura de Lula à Presidência em um período de baixa credibilidade para o PT.
A resposta de Gleisi evidenciou a crescente pressão sobre os membros do partido para reavaliar suas estratégias e buscar uma unidade diante da adversidade política. Internamente, o PT enfrenta divisões cada vez mais aparentes entre as lideranças, refletindo uma disputa entre os que defendem um posicionamento mais radical e os que acreditam na importância de moderar o discurso para se adaptar ao novo cenário político. Alguns membros do partido acreditam que a perda de apoio entre a classe trabalhadora e a população de baixa renda é reflexo dessa divisão interna, que tem se acentuado desde que o PT se tornou parte de um governo que precisa dialogar com forças de centro e direita.
O desempenho medíocre nas eleições de São Paulo é um ponto particularmente sensível, uma vez que a cidade foi um dos principais redutos do PT em sua ascensão no final dos anos 80 e início dos anos 90. Desde então, o partido passou a se consolidar em várias regiões do Brasil, mas o enfraquecimento na capital paulista serve como um termômetro da dificuldade que a legenda enfrenta para recuperar o prestígio. Para analistas políticos, a falta de renovação e a incapacidade de atrair novos eleitores são sintomas de uma crise de identidade que o partido enfrenta ao longo da última década.
Dentro do PT, alguns acreditam que é hora de rever a estratégia e adotar uma postura mais conectada às demandas atuais da sociedade, em vez de se apoiar em discursos que lembram uma era passada do partido. Entretanto, o clima de incerteza sobre o futuro do PT pode dificultar essa mudança. A pressão sobre as lideranças por parte de militantes e filiados está em alta, e muitos cobram uma postura mais agressiva nas pautas de esquerda, enquanto outros defendem que a moderação e o diálogo são a única saída para reconquistar o apoio popular.
A situação tem gerado um clima de desesperança para muitos, e há quem preveja que o PT precisará passar por uma transformação estrutural para sobreviver a este novo cenário. A combinação de críticas internas e o desempenho fraco nas urnas leva alguns a se perguntarem sobre a viabilidade de uma reestruturação do partido. A principal questão que surge é se o PT terá condições de se reorganizar a tempo de se tornar novamente uma força expressiva nas eleições nacionais de 2026, especialmente em um contexto político que exige habilidade para lidar com alianças complexas e uma extrema-direita fortalecida.
Enquanto isso, a divisão dentro do PT continua a se aprofundar. A resposta de Gleisi Hoffmann a Padilha e o clima de tensão que se espalha entre as lideranças do partido são reflexos de um momento decisivo. A legenda está em busca de uma identidade renovada, mas o caminho para a reinvenção parece cada vez mais incerto. Resta saber se as lideranças do PT conseguirão encontrar um ponto de convergência que permita ao partido reencontrar o rumo e se adaptar aos novos desafios políticos do país.