Polícia Civil diz que laudo exibido por Pablo Marçal é falso


No último sábado, 5 de outubro de 2024, um laudo divulgado pelo Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil de São Paulo revelou que o documento publicado pelo empresário e candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, em suas redes sociais é falso. O documento, que alegava que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) havia sido atendido em uma clínica médica após o uso de cocaína, foi declarado como fraudulento pelos peritos Nicia Koga, Marina Pais e Raphael Parisotto. A perícia foi realizada com base em análises técnicas que compararam a assinatura do médico mencionado, José Roberto de Souza, com documentos verdadeiros emitidos por ele entre 1978 e 2015, resultando na constatação de que o traçado da assinatura no receituário era inautêntico.


O caso ganhou grande repercussão após a publicação do documento nas redes sociais de Pablo Marçal, que alegava que Boulos havia sido atendido em janeiro de 2021 na clínica Mais Consulta, localizada no bairro do Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo. Segundo o laudo falso, o atendimento teria ocorrido devido a um surto psicótico grave sofrido por Boulos, acompanhado de delírio persecutório e ideias homicidas. O documento também mencionava que um exame toxicológico realizado na ocasião apontava o uso de cocaína pelo deputado do PSOL. Entretanto, além das irregularidades na assinatura do médico, os peritos constataram que o número do RG de Boulos no receituário também estava incorreto, sendo apresentado com dois dígitos verificadores, enquanto o padrão oficial das carteiras de identidade emitidas pelo Governo do Estado de São Paulo contém apenas um.


Em resposta, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo confirmou a conclusão do laudo e informou que o documento já foi encaminhado para os trâmites legais. Um inquérito policial foi instaurado para investigar o caso, a fim de apurar as circunstâncias e possíveis responsabilidades pela divulgação do laudo falso. A pasta destacou que a investigação continuará para garantir que os fatos sejam devidamente esclarecidos e que os responsáveis sejam identificados.


No mesmo dia, Pablo Marçal, em conversa com jornalistas, afirmou que apenas compartilhou o documento em suas redes sociais e que não tem qualquer ligação direta com a elaboração do laudo. "Não fui eu que dei o laudo, só publiquei. Tem que checar com meu advogado, ele que recebeu", disse o empresário, ao ser questionado sobre a autenticidade do documento. Marçal também desafiou Boulos a provar que as acusações são falsas, fazendo comentários polêmicos: "Qual é o problema de ele aceitar logo e avisar para todo mundo que é cheirador? Se ele está falando que não é, agora tem que provar."


Apesar da gravidade do caso e da repercussão negativa, Marçal afirmou que não teme qualquer consequência legal que possa comprometer sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Segundo ele, não há crime algum em sua conduta e que a contraprova sobre a veracidade do laudo cabe a Boulos. "Zero. Não tem nenhum delito nisso. A contraprova é dele. Aquele laudo dele é fraudulento", completou o candidato do PRTB, mostrando que não se arrepende de ter publicado o material, mesmo após a remoção do conteúdo pelo Instagram, onde a postagem ficou no ar por cerca de uma hora e meia.


O episódio ocorre em um momento tenso da campanha eleitoral em São Paulo, com Marçal e Boulos sendo dois dos principais candidatos à prefeitura. A campanha de Boulos ainda não comentou oficialmente o ocorrido, mas o caso certamente poderá impactar o cenário eleitoral e as discussões em torno da veracidade das informações divulgadas durante o período eleitoral.


As falsas alegações envolvendo o uso de drogas têm sido utilizadas com frequência em campanhas políticas, na tentativa de prejudicar adversários e manchar reputações. No entanto, a disseminação de informações falsas pode ter consequências legais, e o caso de Pablo Marçal levanta discussões importantes sobre o uso ético das redes sociais na política, especialmente em períodos de eleição. A Justiça Eleitoral já demonstrou preocupação com o impacto das fake news nas campanhas e reforçou a necessidade de punições rigorosas para aqueles que utilizam informações falsas com o objetivo de manipular eleitores.


Com o laudo do Instituto de Criminalística agora em mãos, a investigação da Polícia Civil deverá avançar nas próximas semanas, e tanto Marçal quanto Boulos terão de lidar com as consequências políticas e legais desse episódio. Para Marçal, a exposição de um laudo falso pode representar uma mancha em sua candidatura, enquanto para Boulos, o caso se torna mais uma batalha em uma campanha marcada por ataques pessoais e desinformação.


A divulgação de informações falsas ou manipuladas durante o processo eleitoral é um desafio crescente no Brasil e no mundo, e casos como esse mostram a importância de se verificar a autenticidade das informações antes de compartilhá-las publicamente, especialmente em um ambiente tão sensível quanto o político. A Justiça Eleitoral e as autoridades competentes terão agora a tarefa de garantir que o caso seja devidamente investigado e que os responsáveis sejam punidos de acordo com a lei, em defesa da integridade do processo democrático.

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