A Globo, emissora que durante décadas dominou a audiência da televisão brasileira, enfrenta atualmente uma crise de audiência que ameaça seu histórico de liderança. O aumento da competição, impulsionado por emissoras como o SBT e o crescimento das plataformas de streaming, contribuiu para um cenário desafiador, em que a “Vênus Platinada” não reina mais sozinha. Um exemplo recente e emblemático ocorreu na última quinta-feira, quando o SBT conseguiu superar a Globo por quase 20 minutos durante a transmissão ao vivo de um jogo decisivo da Copa Sul-Americana entre Corinthians e Racing, que terminou em empate de 2 x 2. Esse resultado não apenas trouxe uma grande audiência para o SBT, mas também marcou um momento simbólico, evidenciando a fragilidade da Globo em um horário que, historicamente, pertence a ela.
Durante o período em que o jogo foi transmitido, o SBT alcançou uma audiência de 11,3 pontos na Grande São Paulo, tirando a vice-liderança da Record e ameaçando o primeiro lugar da Globo, que costuma dominar o ranking com ampla vantagem. Em uma faixa nobre de audiência, das 23h09 às 23h28, o SBT superou a Globo, conquistando uma liderança que serviu como um marco para a emissora, que tradicionalmente tem o terceiro lugar como seu patamar comum. Esse êxito ocorreu em um momento em que o SBT busca se reinventar após a morte de seu fundador, Silvio Santos, em 2024, e trouxe à tona as novas estratégias adotadas pela emissora para competir com as gigantes do setor.
O investimento do SBT em eventos esportivos tem sido uma escolha assertiva, especialmente nos campeonatos de futebol que capturam a atenção dos torcedores brasileiros. A transmissão do jogo entre Corinthians e Racing não apenas rendeu bons números no Ibope durante o horário da partida, mas também fortaleceu a audiência dos programas subsequentes na grade noturna da emissora. O programa pré-jogo, por exemplo, registrou 10,8 pontos de audiência média, tirando o SBT do terceiro lugar e estabelecendo uma vice-liderança durante um horário em que a Globo historicamente se mantém isolada na primeira posição. Essa tendência se manteve na sequência, beneficiando programas como o humorístico A Praça É Nossa, que marcou 5,4 pontos, o talk-show The Noite, com 3,0 pontos, e o programa Operação Mesquita, que conquistou 2,2 pontos na audiência. Esses resultados demonstram a relevância de uma grade programática bem estruturada e apoiada em eventos de grande apelo popular, capazes de alavancar toda a programação noturna.
Enquanto o SBT explora esses nichos, a Globo enfrenta os desafios que surgiram com a fragmentação da audiência, provocada pela ascensão das redes sociais e das plataformas de streaming. O público, cada vez mais acostumado com a liberdade de escolher o que assistir e quando assistir, tende a buscar opções sob demanda, tornando a tarefa de manter altos índices de audiência ainda mais complexa. A perda de espectadores jovens, atraídos pelas novas mídias, adiciona outra camada de dificuldade para a Globo, que tradicionalmente detinha a maior fatia do público televisivo. A emissora ainda tem que lidar com o aumento dos custos de produção e a necessidade de adaptar sua programação para reter a atenção em um cenário de intensa concorrência.
Em resposta a esse cenário, a Globo vem investindo em sua plataforma de streaming, o Globoplay, e diversificando seu conteúdo com novos formatos e produções de entretenimento, buscando atrair tanto o público tradicional quanto as novas gerações. Contudo, o sucesso recente do SBT com as transmissões de futebol ressalta o apelo dos eventos ao vivo e de grande relevância popular, um formato que a Globo também explora, mas que agora é compartilhado com concorrentes. A perda de exclusividade nos direitos de transmissão de eventos esportivos é um dos pontos que enfraquecem a estratégia da Globo, e a emissora precisa encontrar novas maneiras de compensar essa divisão de audiência.
Para o SBT, a conquista temporária da liderança serve como uma prova do potencial que a emissora tem de desafiar a hegemonia da Globo em horários chave. A abordagem de Silvio Santos em explorar formatos e programas de grande apelo, como eventos esportivos e auditórios, parece estar sendo mantida pela emissora e pode se tornar uma ferramenta poderosa para consolidar uma audiência mais engajada. Essa estratégia pode impulsionar o SBT a se destacar em um cenário competitivo e garantir bons resultados, especialmente em horários noturnos onde a Globo costumava reinar absoluta.
O recente feito do SBT acende um alerta para a Globo, que, mesmo contando com uma tradição de décadas de liderança e uma marca sólida, agora precisa reinventar-se para reter sua audiência. A “Vênus Platinada” não pode mais contar apenas com a força de sua tradição e precisa responder aos avanços de concorrentes como o SBT e as plataformas de streaming, que estão moldando um novo panorama no consumo de mídia. A situação demanda uma estratégia de adaptação para que a Globo não veja seu público ser fragmentado de forma irreversível.