O artigo publicado por Jair Bolsonaro na Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (13) gerou uma intensa reação de indignação entre membros da esquerda e veículos de comunicação considerados alinhados a ela. Com um tom provocativo e críticas contundentes, o ex-presidente atacou setores progressistas e defendeu uma onda conservadora que, segundo ele, estaria crescendo em várias partes do mundo, impulsionada pelo desejo de valores tradicionais, liberdade econômica e religiosa e, principalmente, por uma defesa da democracia que ele afirma estar sendo ameaçada por forças autoritárias.
Intitulado “Aceitem a democracia”, o artigo apresenta uma análise do cenário político atual sob uma ótica conservadora, afirmando que em várias nações – como Argentina, Brasil e Estados Unidos – os eleitores vêm preferindo candidaturas e agendas ligadas à direita. Para Bolsonaro, essa mudança é resultado de uma escolha popular por pautas como ordem, desenvolvimento, patriotismo e respeito à família e religião. Ele argumenta que essa é uma resposta das populações contra o que chama de "ameaças autoritárias" vindas da esquerda e dos meios de comunicação.
Bolsonaro começa o artigo apontando o que considera uma tendência global de avanço da direita, negando interpretações que classificam essa movimentação como uma guinada ao centro. Ele critica analistas e cientistas políticos que tentam enquadrar esses fenômenos de forma mais moderada, insistindo que o movimento conservador atual é uma resposta clara aos “excessos” cometidos pelos governos e ideologias progressistas. Em suas palavras, "onde o povo tem sido chamado a opinar, a maioria escolhe a ordem, o desenvolvimento, o progresso, a liberdade econômica, a liberdade de expressão, o respeito às famílias e à religião, o patriotismo".
A publicação do texto foi rapidamente compartilhada e discutida em várias plataformas de redes sociais, com figuras da esquerda reagindo enfaticamente. Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, foi uma das primeiras a expressar sua indignação, criticando o teor do artigo e chamando-o de um "ataque à democracia e ao respeito pelas instituições". Ela afirmou que Bolsonaro "busca distorcer a realidade para legitimar sua visão retrógrada e antidemocrática", criticando a narrativa do ex-presidente como uma forma de alimentar divisões políticas.
Além de Hoffmann, jornalistas de veículos como UOL também demonstraram irritação e reprovação em relação ao artigo. Blogueiros e analistas de diversos portais identificados com o espectro progressista compartilharam suas críticas, acusando o ex-presidente de usar uma retórica populista e de manipulação para atacar a esquerda. Segundo eles, Bolsonaro estaria distorcendo fatos ao sugerir que a esquerda tenta impedir o avanço da direita por meio de práticas autoritárias.
Bolsonaro, em seu artigo, argumenta que o sucesso das ideias conservadoras acontece mesmo em meio ao que ele define como "censura, cancelamentos e perseguições" por parte de veículos de comunicação e figuras influentes na mídia. Ele defende que as bandeiras da direita representam os anseios da maioria da população e que “nenhuma medida administrativa ou repressiva tem sido capaz de modificar essa tendência”. Ao referir-se à esquerda, ele acusa seus opositores de acusarem a direita de ser inimiga da democracia, mas sugere que é a esquerda quem teria dificuldades em aceitar os resultados quando derrotada.
O ex-presidente menciona a situação política de países como Venezuela, onde acusa o governo de fraudar resultados eleitorais, e cita o caso de Donald Trump, que segundo ele foi perseguido e impedido de concorrer livremente nas eleições americanas. Segundo Bolsonaro, esses fatos comprovam o autoritarismo da esquerda e o afastamento progressivo dessas lideranças dos valores democráticos.
Ele encerra o artigo afirmando que os líderes conservadores, ao contrário da esquerda, estariam em sintonia com a vontade popular e que, mesmo diante de ataques e perseguições, continuam a surgir novos quadros conservadores. De forma provocativa, ele questiona onde estariam os novos líderes da esquerda, sugerindo que esse campo ideológico enfrenta uma crise de representatividade e relevância, com um cenário de “envelhecimento e desolação”.
Para Bolsonaro, essa renovação e fortalecimento da direita é evidente no contexto brasileiro, onde ele afirma que nas últimas eleições municipais e legislativas houve um crescimento significativo de quadros conservadores, consolidando o que ele define como um "tsunami de afirmação". Segundo o ex-presidente, a ascensão de novos líderes conservadores é uma prova de que o povo continua a defender essas bandeiras, o que, para ele, seria uma demonstração de que o conservadorismo é uma força em ascensão.
As reações ao artigo reforçam a polarização política no Brasil e no mundo. De um lado, apoiadores de Bolsonaro veem a publicação como uma reafirmação dos princípios conservadores e como uma crítica legítima à resistência da esquerda em aceitar as transformações no cenário político. Por outro lado, críticos do ex-presidente enxergam o texto como uma tentativa de minar a legitimidade das forças progressistas e de questionar o sistema democrático.
O artigo de Bolsonaro desperta uma discussão que, mais uma vez, coloca em evidência as diferenças entre os espectros ideológicos e a disputa pela narrativa política. Para seus aliados, ele representa uma voz de resistência contra os avanços progressistas, enquanto para seus opositores é mais um exemplo do discurso divisivo e polêmico que marcou sua trajetória política.