O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Roberto Barroso, tomou a primeira decisão no inquérito que investiga o ataque em frente à sede do tribunal na última quarta-feira (13). Barroso designou o ministro Alexandre de Moraes como relator do caso, atendendo à regra de prevenção, que determina que processos relacionados a investigações já em andamento devem ser atribuídos ao mesmo relator. Moraes, que já conduz inquéritos como o das fake news, das milícias digitais e dos atos de 8 de janeiro, assume assim a análise do episódio envolvendo Francisco Wanderley Luiz, autor do ataque.
O atentado, ocorrido em uma das áreas mais protegidas de Brasília, gerou ampla repercussão e acendeu alertas sobre o aumento do ódio político no país. Em sua primeira manifestação sobre o caso, Moraes destacou que as explosões não devem ser interpretadas como eventos isolados, mas sim como parte de uma escalada de tensão que ameaça a democracia. Ele reforçou que é essencial investigar com rigor os mandantes e possíveis conexões do suspeito com grupos organizados, destacando a gravidade do ataque e a necessidade de combater discursos que fomentam a violência.
Francisco Wanderley Luiz foi preso em flagrante após lançar explosivos nas proximidades do STF. Em depoimento preliminar, ele teria alegado motivações políticas para o ato, embora os detalhes de suas declarações ainda estejam sob sigilo. A Polícia Federal já iniciou diligências para determinar se o suspeito agiu sozinho ou se fazia parte de uma rede maior de extremismo político. Informações preliminares indicam que ele pode ter ligações com grupos que disseminam discursos de ódio contra instituições públicas, incluindo o próprio Supremo.
A escolha de Moraes como relator do caso gerou reações intensas no cenário político. Enquanto aliados do governo defendem que o episódio é mais um exemplo da necessidade de combater movimentos antidemocráticos, setores da oposição têm questionado a imparcialidade do ministro. Para críticos, a relatoria reforça uma tendência de concentração de poder nas mãos de Moraes, uma figura que já é alvo de contestações no Congresso Nacional. Nos últimos meses, o ministro tem enfrentado pressões devido a pedidos de impeachment movidos por parlamentares insatisfeitos com sua atuação em casos polêmicos.
A relação do episódio com o ex-presidente Jair Bolsonaro também entrou no centro do debate. Líderes políticos e especialistas avaliam que o caso será utilizado em narrativas que associam o ataque à militância bolsonarista. Isso poderia fortalecer argumentos contra a anistia política ao ex-presidente, que tem sido defendida por seus aliados para viabilizar uma volta ao cenário eleitoral. Ao mesmo tempo, há receios de que o ataque sirva como combustível para iniciativas que visem desestabilizar propostas de investigação contra ministros do STF, incluindo o próprio Moraes.
Nos bastidores, há quem veja no episódio uma oportunidade para o governo reforçar medidas de combate a discursos extremistas. Fontes próximas ao Planalto indicam que o ataque pode acelerar a discussão sobre projetos de lei voltados à regulamentação de redes sociais e à responsabilização de plataformas que permitam a disseminação de conteúdos que incitem a violência ou a desinformação. A expectativa é que o caso ganhe destaque nas próximas semanas, com debates acalorados entre defensores de uma postura mais rígida contra movimentos antidemocráticos e aqueles que acusam o governo de censura.
No Congresso, o ataque repercutiu de maneira dividida. Deputados da base governista apontaram o episódio como mais uma evidência da necessidade de blindar as instituições contra ameaças externas, enquanto parlamentares da oposição pediram cautela nas investigações e criticaram o uso político do caso. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) deve analisar pedidos para que o ministro da Justiça, Flávio Dino, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, prestem esclarecimentos sobre as medidas adotadas para prevenir atos de violência em Brasília.
A sociedade civil também se posicionou. Entidades que monitoram a democracia e os direitos humanos emitiram notas condenando o ataque e pedindo uma resposta contundente das autoridades. Ao mesmo tempo, movimentos contrários ao STF se manifestaram nas redes sociais, reforçando o clima de polarização que permeia o país. A hashtag #STFTerrorista chegou aos assuntos mais comentados em algumas plataformas, enquanto defensores do tribunal destacaram a importância de preservar a integridade das instituições.
Especialistas em segurança pública alertam que o caso de Francisco Wanderley Luiz não deve ser tratado como um ato isolado, mas como parte de um fenômeno maior de radicalização política. Eles destacam a necessidade de enfrentar as raízes desse problema, que incluem a disseminação de desinformação e o enfraquecimento do diálogo democrático. Para analistas, a resposta das autoridades será decisiva para sinalizar o compromisso do Brasil com a democracia e o estado de direito.
Enquanto isso, o país aguarda os próximos desdobramentos do inquérito sob a condução de Moraes. A expectativa é que as investigações tragam à tona não apenas os detalhes do ataque, mas também as possíveis conexões do autor com grupos extremistas. O caso promete dominar as manchetes nas próximas semanas, servindo como mais um capítulo no embate político e institucional que tem marcado o cenário brasileiro.