O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se pronunciou nesta quarta-feira (13/11) sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pela deputada Erika Hilton (PSol-SP), que busca reduzir a escala de trabalho 6×1, permitindo que trabalhadores tenham uma folga a mais em suas jornadas semanais. A medida, que tramita na Câmara dos Deputados, gerou reações diversas entre lideranças políticas e do setor empresarial. Bolsonaro, durante a posse de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), como secretário Nacional de Relações Institucionais e Internacionais do Partido Liberal (PL), afirmou que a proposta incentiva o confronto entre trabalhadores e empregadores, além de provocar instabilidade no setor econômico.
Bolsonaro argumentou que essa proposta se alinha a uma estratégia que ele vê como uma tentativa da esquerda de gerar polarização e conflitos dentro do mercado de trabalho. "Eles (a esquerda) se acabaram. As eleições municipais mostram isso daí. E eles têm que renascer das cinzas. Como? Jogando um contra o outro, como a massa do Brasil, empregado contra patrão", declarou o ex-presidente, sugerindo que medidas como essa PEC acabam por criar divisões sociais. Em seu discurso, Bolsonaro enfatizou a ideia de que a proposta não leva em consideração os impactos financeiros que a mudança da escala de trabalho pode trazer às empresas, especialmente as de menor porte, que poderiam sofrer com o aumento dos custos operacionais.
A PEC da deputada Erika Hilton ganhou destaque por propor um modelo de trabalho com mais folgas para os trabalhadores, o que, segundo a autora, seria uma forma de melhorar a qualidade de vida dos empregados e oferecer uma compensação pelos desgastes físicos e mentais inerentes a algumas funções. A medida, entretanto, enfrenta resistência por parte de parlamentares alinhados com o setor empresarial e com uma visão mais conservadora do mercado de trabalho. Para esses críticos, a redução da carga de trabalho semanal, sem a contrapartida de redução de salários, pode desestimular o emprego e comprometer a sustentabilidade de diversos negócios, especialmente em um contexto de recuperação econômica.
Bolsonaro também abordou o tema em entrevista ao portal Metrópoles, na coluna de Igor Gadelha, onde reafirmou que considera a proposta como "uma areia movediça" para o setor produtivo e indicou que ações como essa são pensadas para desgastar a imagem do empresariado nacional. "Jogar o abacaxi para o Lula resolver", foi uma das estratégias que ele mencionou ao falar sobre o impacto que medidas populistas poderiam ter na base de apoio do atual presidente. Bolsonaro afirmou que essas questões precisam ser cuidadosamente avaliadas, pois qualquer erro pode resultar em um impacto negativo significativo sobre a economia e sobre as próprias classes trabalhadoras que se busca proteger.
Ainda no evento, Bolsonaro fez uma comparação entre a proposta de Erika Hilton e a chamada PEC 300, proposta que tramitou em anos anteriores e que buscava estabelecer um piso salarial nacional para policiais e bombeiros. Ele mencionou que, embora medidas como essa sejam “bonitas no papel”, muitas vezes na prática não alcançam os resultados esperados e acabam sobrecarregando o orçamento público e o setor privado, gerando mais problemas do que soluções.
A PEC 300, que ele citou como exemplo, causou grandes debates e mobilizações na época, uma vez que levantava a questão da valorização dos profissionais de segurança, mas também enfrentava resistência por conta dos custos que impunha aos estados e municípios. Para Bolsonaro, o caminho da proposta de Erika Hilton poderá enfrentar obstáculos semelhantes, pois, ao exigir uma folga adicional para cada seis dias trabalhados, pode acarretar um impacto econômico em diferentes setores e regiões do país.
A fala do ex-presidente gerou repercussão entre outros parlamentares presentes, além de ecoar entre líderes do setor empresarial, que expressaram preocupação com o impacto que a PEC pode ter, especialmente para pequenos e médios empresários. Já a deputada Erika Hilton e apoiadores da medida argumentam que o bem-estar dos trabalhadores deve ser priorizado e que um descanso adicional semanal pode trazer ganhos indiretos para a economia, aumentando a produtividade dos empregados e reduzindo problemas de saúde.
Nas redes sociais, a declaração de Bolsonaro dividiu opiniões. Enquanto alguns usuários apoiaram a posição do ex-presidente, alegando que a medida poderá inviabilizar empregos em um momento de crise, outros criticaram seu posicionamento, defendendo que a saúde e o bem-estar dos trabalhadores devem ser prioridades em qualquer política pública.
O debate sobre a PEC 6×1 ilustra um dos principais desafios enfrentados pelo atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que é o de equilibrar demandas por melhorias nas condições de trabalho sem, ao mesmo tempo, comprometer a recuperação econômica e a geração de empregos. Enquanto isso, o Partido Liberal se posiciona de forma crítica e atenta às mudanças trabalhistas, com parlamentares da base bolsonarista prometendo barrar projetos que, segundo eles, coloquem em risco a competitividade e a viabilidade econômica de empresas brasileiras.
A proposta ainda deve enfrentar várias etapas de discussão e votação na Câmara dos Deputados. A previsão é de que o tema seja debatido em audiências públicas nas próximas semanas, onde representantes de entidades sindicais e empresariais poderão apresentar suas visões sobre a proposta.