O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acompanhou, diretamente de sua estadia em Alagoas, os desdobramentos de uma operação da Polícia Federal que prendeu quatro militares do Exército e um policial federal nesta terça-feira (19/11). Os detidos são acusados de conspirar para assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. A operação, que movimentou os bastidores políticos e policiais, gerou repercussão nacional e, como esperado, dividiu opiniões.
Enquanto as prisões aconteciam, Bolsonaro estava pescando na companhia do ex-ministro do Turismo, Gilson Machado. Pessoas próximas relataram que o ex-presidente evitou comentar publicamente os detalhes da operação. Em um círculo restrito, contudo, Bolsonaro teria opinado que as ações da Polícia Federal seriam uma estratégia para consolidar a imagem de Lula como um “democrata” no cenário internacional, especialmente durante o G20, ao destacar o combate a supostos “golpistas”. A fala, embora discreta, reforça a narrativa que Bolsonaro e seus aliados vêm sustentando desde que deixou o cargo: a existência de uma perseguição política orquestrada por instituições do sistema de Justiça.
No dia seguinte, Bolsonaro intensificou sua reação indireta ao caso. Ele enviou a seus contatos no WhatsApp o print de uma notícia que relembrava a confissão feita pelo ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre um episódio de 2017. Na ocasião, Janot revelou em um livro de memórias que, em um momento de tensão, chegou a ir armado à sede do Supremo Tribunal Federal (STF) com a intenção de atirar no ministro Gilmar Mendes. A lembrança desse episódio foi interpretada como uma forma de Bolsonaro sugerir que a verdadeira ameaça ao país e à democracia estaria dentro das próprias instituições, e não em seus apoiadores.
Embora não tenha comentado diretamente a operação que resultou nas prisões, o envio do print foi entendido por seus interlocutores como um recado subliminar. Bolsonaro, conhecido por sua habilidade em mobilizar apoiadores por meio de redes sociais e mensagens diretas, parece sugerir que a narrativa construída contra ele e seus aliados seria mais um exemplo de um suposto uso político das instituições. A frase “um print fala mais do que mil palavras”, que acompanhou a mensagem, reforça sua estratégia de comunicação, que privilegia insinuações e provocações para manter sua base engajada.
A operação da Polícia Federal, que prendeu os cinco suspeitos, foi justificada com base em investigações iniciadas ainda em 2022. As autoridades apontam que os detidos teriam discutido ativamente planos para atentar contra a vida de Lula antes que ele assumisse a Presidência. Embora os detalhes das provas reunidas pela PF não tenham sido divulgados, a ação reacendeu o debate sobre as tensões políticas que marcaram o período eleitoral e o início do mandato de Lula.
Aliados de Bolsonaro veem na operação uma tentativa de desviar a atenção de temas mais urgentes, como a crise econômica e as críticas ao governo atual. Já setores próximos ao governo Lula interpretam as prisões como um desdobramento natural de investigações que buscavam proteger a democracia. Para eles, a identificação de supostos conspiradores reforça a gravidade do momento vivido pelo país nos últimos anos.
Nos bastidores, o caso também levantou questionamentos sobre a postura do ex-presidente diante de acontecimentos de tamanha gravidade. Sua escolha de permanecer em silêncio enquanto pescava com Gilson Machado foi alvo de críticas e elogios. Críticos enxergam o episódio como um indicativo de descaso ou tentativa de desviar o foco das investigações. Já seus apoiadores veem na atitude de Bolsonaro uma demonstração de serenidade, evitando se envolver em polêmicas que poderiam ser usadas contra ele.
Especialistas em comunicação política avaliam que Bolsonaro adota uma estratégia calculada. Ao enviar mensagens indiretas e relembrar episódios como o de Rodrigo Janot, ele consegue manter sua base mobilizada sem se comprometer diretamente com as acusações. Além disso, ao sugerir que a operação teria motivações políticas, ele tenta reforçar sua tese de que é vítima de um sistema que busca sua deslegitimação.
O cenário político brasileiro segue tensionado, com as recentes prisões aumentando ainda mais a polarização. Enquanto o governo tenta destacar a importância de combater supostas ameaças à democracia, a oposição, liderada por Bolsonaro, continua a questionar a imparcialidade das instituições que comandam essas investigações. O desfecho desse caso pode ter implicações profundas não apenas para os envolvidos, mas também para o clima político do país, que segue marcado por divisões e desconfianças.
No momento, Bolsonaro permanece em Alagoas, longe dos holofotes da mídia tradicional, mas próximo de sua base fiel, que o acompanha pelas redes sociais e aplicativos de mensagens. Seu silêncio público, combinado com suas ações nos bastidores, parece ser uma tática para se preservar enquanto as investigações avançam. Para muitos, o caso é apenas mais um capítulo na longa batalha política entre Bolsonaro e o que ele chama de “sistema”. Para outros, é a prova de que o país ainda enfrenta desafios graves para consolidar sua democracia.