Em uma entrevista ao jornal O Globo, o ex-presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), voltou a expressar suas opiniões sobre o cenário político brasileiro e lançou um desafio direto a seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, sobre as alegações de que teria sido elaborada uma minuta com intenções golpistas para reverter o resultado das eleições de 2022. O episódio, que ganhou notoriedade após o depoimento de Cid à Polícia Federal, levantou questionamentos sobre possíveis tentativas de romper o processo democrático, mas Bolsonaro foi enfático ao se defender, rejeitando qualquer envolvimento com a criação de um documento que sugerisse ações nesse sentido.
Durante a entrevista, Bolsonaro foi direto ao mencionar o Congresso Nacional, destacando a importância do órgão em aprovar um projeto de anistia que poderia reverter sua inelegibilidade e, assim, pavimentar seu caminho para uma possível candidatura às eleições presidenciais de 2026. Para Bolsonaro, o apoio do Congresso é essencial nesse processo, uma vez que o ex-presidente tem reiterado publicamente seu desejo de disputar o próximo pleito, caso tenha sua situação legal regularizada.
Ao abordar a suposta minuta golpista, Bolsonaro desafiou seu ex-ajudante de ordens a esclarecer quem, de fato, teria sido o responsável por elaborar tal documento. Em tom provocativo, afirmou: "O Cid que diga quem foi que preparou [a minuta golpista]. Eu sempre fui contra qualquer tipo de ruptura institucional." A declaração de Bolsonaro visa, segundo ele, dissipar qualquer dúvida sobre sua posição em relação ao respeito pelas normas e instituições democráticas do país, uma postura que ele afirma ter mantido durante seu mandato e após deixar a Presidência.
Bolsonaro argumentou que a minuta em questão seria apenas um rascunho e questionou a autenticidade e a seriedade do suposto plano. "O que se fala é que tem um rascunho de um documento. Cadê esse documento?", questionou. Ele levantou dúvidas sobre a procedência e o contexto em que tal material teria sido criado, sugerindo que poderia tratar-se de um esboço sem qualquer valor real ou propósito de execução. O ex-presidente também buscou desfazer a ideia de que teria, em algum momento, articulado a imposição de um estado de sítio, mecanismo que ele explicou como sendo complexo e exigente de uma série de passos institucionais.
Bolsonaro explicou que, para a instauração de um estado de sítio, o presidente da República teria que convocar os conselhos da República e de Defesa Nacional, compostos por representantes do Executivo, da Câmara dos Deputados e do Senado. Segundo ele, esse processo jamais foi iniciado, uma vez que não houve a convocação de nenhum desses conselhos. Além disso, para que a medida fosse formalizada, o presidente deveria enviar um pedido de autorização ao Congresso Nacional. Somente após a aprovação do Congresso, segundo Bolsonaro, seria possível decretar o estado de sítio. "Foi tomada alguma providência para convocar os conselhos? Não", afirmou, defendendo que o assunto jamais saiu do campo das especulações.
A questão sobre o estado de sítio tornou-se um ponto de discórdia nos últimos meses, especialmente entre apoiadores e críticos do ex-presidente. Bolsonaro, entretanto, sustenta que sua postura sempre foi a de respeitar os trâmites legais e constitucionais, e que, se houve qualquer menção a medidas mais drásticas, estas foram apenas discussões hipotéticas e nunca se traduziram em ações concretas. "Discutir a Constituição passou a ser crime?", questionou, em uma aparente crítica ao que ele considera ser uma tentativa de silenciar discussões políticas legítimas.
O ex-presidente também enfatizou que a própria ideia de um estado de sítio – mecanismo que suspenderia algumas liberdades civis e concederia poderes temporários mais amplos ao Executivo em situações extremas de instabilidade – é um processo rigoroso e que requer uma série de aprovações por diferentes esferas do poder. Ao destacar os passos exigidos para a aplicação da medida, Bolsonaro busca distanciar-se de qualquer imagem que o associe a um plano golpista, reforçando que jamais tomou ou orientou ninguém a tomar tais providências.
Bolsonaro tem reiterado seu compromisso com a retomada de seus direitos políticos, o que acredita ser um caminho viável caso o Congresso aprove uma anistia. Essa anistia poderia, segundo ele, abrir portas para que ele dispute novamente o cargo de presidente em 2026. A expectativa sobre uma possível candidatura de Bolsonaro já movimenta o cenário político brasileiro e gera controvérsias. Enquanto alguns setores da sociedade veem com apreensão a volta de Bolsonaro ao cenário eleitoral, outros enxergam sua candidatura como uma chance de renovação e de oposição ao atual governo.
Por fim, a entrevista de Bolsonaro ao jornal O Globo intensificou ainda mais o debate sobre o papel do Congresso, a legitimidade das discussões políticas e o futuro das eleições no Brasil. Ao questionar seu ex-ajudante Mauro Cid e defender-se das acusações, Bolsonaro mostrou-se determinado a esclarecer os eventos de 2022, buscando se posicionar como defensor da Constituição e das normas democráticas.