Um print vazado de uma conversa no WhatsApp entre Luis Claudio Lula da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e sua ex-esposa, Natália Schincariol, trouxe à tona tensões internas na família do presidente. O descontentamento de Luis Claudio com a presença da primeira-dama, Rosangela da Silva, conhecida como Janja, foi revelado de forma contundente quando ele teria se referido a ela de maneira ofensiva, aumentando ainda mais as especulações sobre desavenças entre os familiares e a nova esposa de Lula.
Desde o início de seu relacionamento com o presidente, Janja tem sido uma figura controversa dentro e fora do Palácio da Alvorada. Com um histórico de militância política, ela se filiou ao Partido dos Trabalhadores aos 17 anos e desempenhou papéis importantes na estrutura do partido, incluindo sua atuação como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Paraná. Foi nesse contexto que ela conheceu Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT, que, ironicamente, parece ter se tornado sua principal rival na disputa por influência dentro do governo.
Janja e Lula se aproximaram definitivamente durante o período em que o ex-presidente esteve preso, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Janja participou ativamente das mobilizações em apoio ao petista, especialmente na vigília em Curitiba, onde ele permaneceu detido por 580 dias. Após a anulação das condenações de Lula, que pavimentaram seu retorno à política, Janja assumiu o papel de primeira-dama com a intenção declarada de ressignificar sua função, prometendo ser uma figura mais ativa em pautas como a proteção de mulheres, segurança alimentar e defesa de crianças e jovens.
Entretanto, na prática, a atuação de Janja tem provocado divisões. Internamente, sua presença tem gerado atritos com outros líderes do PT, como Gleisi Hoffmann, que antes ocupava um lugar de destaque ao lado de Lula. A rivalidade entre as duas é visível, com Gleisi sendo ofuscada pelo protagonismo crescente de Janja, que, segundo aliados, busca consolidar sua própria base de poder. Esse movimento levou a especulações de que Janja poderia ser a sucessora política de Lula, o que traria uma solução familiar para o presidente na transferência de seu legado.
Externamente, Janja enfrenta críticas pelo alto número de viagens internacionais ao lado de Lula e pelos elevados gastos associados a elas, que superam em muito as despesas registradas durante o governo anterior. Além disso, acusações sobre uma suposta “milícia digital” sob seu comando ganharam destaque após denúncias da pesquisadora Michele Prado, da USP. Prado alega que essa rede de apoio, organizada em torno de Janja, utiliza táticas de intimidação, assédio online e censura para controlar o debate público e proteger a imagem da primeira-dama e de seu marido.
No cenário político, o papel de Janja no episódio do dia 8 de janeiro, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília, também foi alvo de controvérsia. Relatos indicam que ela teria convencido Lula a não decretar uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), decisão que transferiria o controle da situação para o Exército. Embora o presidente tenha sido criticado pela demora em agir, a influência de Janja no episódio levantou questionamentos sobre os limites de seu papel no governo.
A primeira-dama parece determinada a moldar sua trajetória política, ainda que isso signifique confrontar líderes estabelecidos no PT. A dinâmica de poder entre Janja, Gleisi Hoffmann e outros integrantes do partido ilustra como as disputas internas podem impactar o funcionamento do governo e as estratégias futuras do petismo.
Enquanto isso, o clima na família de Lula reflete as turbulências políticas. Luis Claudio não é o único que demonstrou desconforto com Janja. Fontes próximas indicam que outros membros da família também se sentem deslocados desde que ela assumiu um papel central na vida do presidente. Essas tensões, somadas às pressões externas enfrentadas por Lula em seu terceiro mandato, complicam ainda mais a estabilidade política e familiar do líder.
O desgaste causado por essas situações alimenta dúvidas sobre o futuro do governo. Se por um lado Janja aparece como uma figura carismática e determinada, por outro, sua atuação divide opiniões, tanto dentro da esfera política quanto na sociedade. Com uma postura assertiva e ambiciosa, a primeira-dama segue atraindo tanto apoio quanto críticas, mantendo-se no centro das atenções e das controvérsias que cercam o governo Lula.