Decifrado o “banho de dinheiro” dado pela Secom de Lula na Rede Globo, algo inimaginável


 A Secretaria de Comunicação (Secom) do governo Lula tem gerado repercussão ao divulgar dados que revelam um expressivo aumento nos investimentos publicitários direcionados à Rede Globo. Entre os anos de 2023 e 2024, a emissora recebeu um total de 177,2 milhões de reais em contratos de publicidade do governo federal, ultrapassando o valor total que o governo de Jair Bolsonaro destinou à mesma emissora ao longo de seus quatro anos de mandato, de 2019 a 2022. Esses dados foram levantados pela revista VEJA, que teve acesso aos registros contratuais da Secom e analisou as campanhas publicitárias veiculadas pela Globo de janeiro a outubro de cada ano.


A comparação entre os governos de Lula e Bolsonaro em relação aos valores destinados à Rede Globo reflete uma mudança significativa na estratégia de comunicação do atual governo. O montante direcionado à emissora nos últimos dois anos, sob a gestão de Lula, supera os 177 milhões de reais pagos pela administração anterior durante todo o período de Bolsonaro no poder. Essa diferença chama a atenção, especialmente em função das posturas contrastantes dos dois governos em relação à emissora e ao uso da publicidade oficial como ferramenta de comunicação. A análise mostra que apenas em 2024, a participação da Globo nas inserções publicitárias do governo foi de 53%, totalizando 164,4 milhões de reais investidos nas principais redes de televisão brasileiras. Este número coloca a Globo em uma posição de destaque em relação aos gastos com publicidade, em comparação com outras emissoras do país.


A decisão da Secom de concentrar grande parte de seus investimentos na Rede Globo contrasta com a abordagem adotada durante o governo Bolsonaro, que tradicionalmente mantinha uma relação tensa com a emissora. Nos anos anteriores, a administração Bolsonaro distribuía os recursos publicitários de forma mais equilibrada entre diversas redes televisivas e meios de comunicação, minimizando a importância da Globo em sua estratégia de comunicação. A diferença nos valores alocados a cada emissora também indica uma mudança na postura do governo em relação à mídia tradicional, que, durante o período bolsonarista, enfrentou um cenário de enfrentamento ideológico e crítico, especialmente com a Globo, que era frequentemente criticada pelo ex-presidente.


Em 2023, o grupo de comunicação da família Marinho já havia se beneficiado com 130,5 milhões de reais em negócios com o governo federal. Esse valor ultrapassou os 127 milhões de reais que a Secom de Bolsonaro destinou ao total de todas as emissoras de televisão brasileiras em 2019, primeiro ano de seu governo. Ou seja, apenas com a Rede Globo, Lula já ultrapassou o montante que Bolsonaro destinou ao conjunto de canais de TV em um ano. Esse dado evidencia a centralização dos recursos em uma única rede de comunicação, um movimento que também vem provocando debates sobre a transparência e as escolhas estratégicas no uso dos fundos públicos para publicidade.


Entre os fatores que podem ter motivado essa concentração de investimentos na Globo, destacam-se o alcance e a audiência da emissora, que continua sendo a maior do país e alcança diferentes segmentos da população. A Globo mantém uma posição consolidada como uma das principais fontes de informação para os brasileiros, o que justifica a escolha do governo federal em direcionar boa parte de seus recursos de publicidade para essa plataforma. Essa estratégia parece alinhada com o desejo do governo Lula de garantir uma comunicação ampla de suas iniciativas e projetos, utilizando a visibilidade da emissora para alcançar um público diverso.


Ainda assim, as escolhas da Secom vêm gerando discussões entre especialistas e críticos, que levantam questionamentos sobre a ética e os critérios de distribuição desses recursos. Para alguns analistas, o governo Lula estaria promovendo um favorecimento desproporcional à Globo, em detrimento de outras redes que também poderiam receber parte desses investimentos, fortalecendo a pluralidade de vozes e a diversidade na distribuição dos recursos públicos. A centralização dos gastos publicitários em uma única emissora, especialmente em uma instituição de grande influência como a Globo, pode limitar a diversidade de informações e dar a impressão de uma parceria preferencial entre o governo e o grupo de comunicação, algo que incomoda opositores e reforça o debate sobre a necessidade de uma política de distribuição de publicidade mais equilibrada e transparente.


A questão da distribuição de verbas publicitárias governamentais para veículos de comunicação é um tema recorrente e sensível na política brasileira. Ao longo das últimas décadas, diferentes administrações foram criticadas por decisões que pareciam favorecer determinadas emissoras ou veículos em detrimento de outros. Nesse sentido, o aumento significativo dos recursos destinados à Globo pelo governo Lula representa uma continuidade desse debate e reforça a necessidade de transparência e critérios claros para a alocação de recursos públicos.


A decisão do governo de investir valores expressivos em publicidade na Rede Globo se apresenta como uma estratégia para garantir maior alcance das campanhas institucionais e melhorar a percepção pública de suas ações. Contudo, o crescimento desses investimentos em relação ao governo anterior, somado à concentração de recursos em uma única emissora, mantém o tema da publicidade governamental em destaque, e é provável que as discussões sobre essa questão permaneçam ativas no cenário político do país.
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