Eis a vergonhosa carta de Doria a Lula


 João Doria, ex-governador de São Paulo, voltou ao centro das atenções ao enviar uma carta de reconciliação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na carta, Doria, que já foi um dos críticos mais fervorosos do Partido dos Trabalhadores (PT) e de Lula, expressa o desejo de resolver divergências passadas e estabelecer um tom mais pacífico entre os dois. O gesto, intermediado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, chama atenção pelo contraste com a postura combativa que Doria adotou durante sua trajetória política, especialmente quando se lançou como o "João trabalhador" e prometeu enfrentar o PT de forma vigorosa.


Alckmin, que tem uma longa história política ao lado de Doria e foi essencial em sua ascensão política, atuou como uma espécie de ponte entre os dois. Ele, que foi mentor de Doria e esteve ao seu lado durante muitos dos momentos decisivos de sua carreira, auxiliou no envio da correspondência e manteve o diálogo com o presidente. No texto, Doria reconhece “exageros e equívocos” que cometeu durante seu tempo no governo e nos embates públicos com Lula. Embora a carta não entre em detalhes sobre os episódios específicos que levaram a tais exageros, o tom é claramente de arrependimento e conciliação. Em um dos trechos mais simbólicos, ele escreve: “Queria ter a chance de dizer que errei”.


Doria, que em 2022 deixou a política para dedicar-se exclusivamente ao mundo empresarial, reafirma em sua carta que essa decisão é definitiva. “Saí em definitivo da política. Pode escrever. Não tenho raiva, não tenho mágoa e não tenho ressentimento. Mas, para a política, não volto mais”, declarou. Essa declaração reforça que seu gesto de reconciliação com Lula é genuíno e não uma estratégia para voltar ao cenário político. Nos últimos anos, Doria tem sido visto em eventos empresariais e evitado se envolver em discussões políticas, algo que ele destaca na carta como uma escolha consciente para focar em novos projetos.


Além de buscar reconciliação com Lula, Doria também fez as pazes com figuras políticas próximas, como o ex-governador Rodrigo Garcia e Bruno Araújo, ex-presidente do PSDB. Ambos estiveram ao lado de Doria em momentos de sua trajetória, mas suas relações sofreram desgastes com o tempo, especialmente durante a campanha presidencial de 2022. Segundo Doria, ele sente que estes passos de reconciliação fazem parte de um processo de amadurecimento pessoal e permitem que ele encerre ciclos de antagonismo que antes faziam parte de sua vida pública.


A reação de Lula à carta, no entanto, foi cautelosa. O presidente teria demonstrado apreço pelo gesto conciliador de Doria, mas não indicou qualquer intenção de estreitar os laços com o ex-governador. De acordo com fontes próximas ao Planalto, Lula aceitou o pedido de desculpas com “reserva”, mas sua prioridade permanece em fortalecer as relações com aqueles que sempre foram seus aliados, especialmente na arena política. Para Lula, a reconciliação é vista como um passo positivo, mas que não trará mudanças profundas em sua abordagem com figuras do passado, como Doria.


O gesto de Doria gerou reações mistas no meio político. Parte do espectro político acredita que a carta reflete o amadurecimento de Doria e um reconhecimento de que os embates políticos podem ser superados em nome de uma convivência mais harmônica. Outros, porém, consideram o movimento uma tentativa de preservar sua imagem diante do público, especialmente após abandonar a política. A figura do “João conciliador”, mencionada por Doria na carta, ressoa de forma simbólica com o seu bordão de campanha de 2016, quando se apresentava como o “João trabalhador”. Essa referência destaca como Doria vê sua transformação pessoal, agora mais disposto a reconhecer o diálogo e a conciliação como caminhos mais adequados que o confronto direto.


Desde que abandonou a vida pública, Doria tem se concentrado em seus negócios e evitado qualquer associação com partidos políticos ou discussões ideológicas. Segundo ele, o distanciamento foi essencial para que pudesse se reconectar com seu lado empresarial e deixar para trás o peso das tensões políticas que marcaram seus anos no governo paulista. A reconciliação com figuras como Alckmin, Garcia e Araújo também ilustra como Doria busca viver um novo momento de sua vida, no qual não há espaço para ressentimentos.


“A minha alma é conciliadora. Não odeio ninguém. Não vou retomar uma situação de antagonismo por isso. Se ele leu, ótimo. Minha alma está mais tranquila, espero que a dele também”, concluiu Doria. A frase resume o tom pacífico que ele tenta imprimir em sua nova fase. Para ele, não é mais importante conquistar posições políticas ou travar batalhas ideológicas; o essencial agora é encontrar paz e equilíbrio.

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