A deputada federal Eliza Virgínia aproveitou seu último dia na Câmara dos Deputados para fazer um desabafo contundente, confrontando diretamente o presidente da Casa, Arthur Lira. Em um discurso que emocionou muitos presentes e atraiu a atenção de seus colegas, Eliza criticou as decisões que, segundo ela, impedem o avanço de projetos importantes, como a anistia aos presos pelo episódio de 8 de janeiro. Essa anistia estava inicialmente prevista para ser votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas foi bloqueada quando Lira optou por criar uma nova comissão especial, jogando o processo de volta ao início e adiando indefinidamente qualquer decisão concreta sobre o tema.
Em sua fala, a deputada externou sentimentos conflitantes sobre sua partida, expressando tanto satisfação quanto frustração. “Eu me despeço hoje da Câmara Federal com um misto de emoção”, iniciou. “Estou feliz por ter contribuído, por estar com a sensação do dever cumprido, porque fiz o meu possível para colaborar com a pauta conservadora do Brasil.” No entanto, Eliza destacou o que chamou de “nozinho na garganta” ao relembrar as dificuldades em conseguir avanços na pauta de anistia. Para ela, a paralisação desse processo é um reflexo das contradições do sistema político atual, no qual figuras polêmicas e com histórico de condenações, como Renan Calheiros, Jader Barbalho e José Dirceu, são “anistiados” enquanto outros continuam detidos, sem perspectiva de resolução.
A deputada, que assumiu uma cadeira na Câmara por um período temporário de 120 dias devido à licença do deputado Mersinho Lucena, fez questão de recordar os momentos que marcaram sua breve passagem na Casa. Desde o início de seu mandato, Eliza se posicionou enfaticamente a favor da anistia aos envolvidos nos protestos de 8 de janeiro, episódio que resultou em várias prisões. Segundo ela, muitos dos detidos ainda aguardam uma solução justa para seus casos, mesmo enfrentando sérias dificuldades e separações familiares prolongadas. A parlamentar se emocionou ao mencionar Débora, uma mãe de dois filhos que, diferentemente da esposa do ex-governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, não obteve o direito de responder ao processo em liberdade, mesmo tendo filhos pequenos. “No meu primeiro dia aqui, fui à frente do STF pedir pelas Déboras, não por Débora exatamente mãe de dois filhos menores, que, diferentemente da esposa de Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, não teve o direito de ser solta, de responder em liberdade justamente por ter filhos pequenos”, afirmou.
Eliza também mencionou os “Clezãos” e outras pessoas que, segundo ela, estão sofrendo com a privação de liberdade, perdendo momentos importantes com suas famílias, como aniversários, natais e celebrações de ano novo. “Eles estão perdendo seus aniversários, aniversários de seus filhos e netos, estão perdendo nascimentos, natais, ano novo”, lamentou, dirigindo-se aos seus colegas. Para ela, o que está em curso é um fenômeno que ela chamou de “ditaduras judiciais”, onde famílias são separadas, criando “uma centena de órfãos de pais e mães vivos”. O uso dessas expressões fortes ressalta a crítica da deputada ao que ela considera um sistema de justiça parcial e seletivo, que, na visão dela, não trata todos os casos com a mesma equidade.
Ao se referir às “ditaduras judiciais”, Eliza parece estar apontando para a percepção de que há uma espécie de perseguição judicial contra determinados grupos ou indivíduos, especialmente aqueles envolvidos nos protestos de 8 de janeiro, enquanto outros, que também cometeram atos de violência ou depredação em manifestações anteriores, estão em liberdade. Para ela, essa diferença de tratamento configura uma injustiça gritante que o país ainda precisa resolver. “Estamos criando neste Brasil, por conta dessas ditaduras judiciais, uma centena de órfãos de pais e mães vivos. Isso me entristece muito. Mas eu espero que brevemente nós possamos sanar essa injustiça tremenda”, concluiu, dirigindo-se diretamente ao presidente da Câmara, que a ouvia com atenção.
Durante o pronunciamento, alguns parlamentares manifestaram seu apoio, enquanto outros mantinham silêncio, evidenciando a divisão de opiniões sobre o tema. Arthur Lira, por sua vez, evitou entrar em debate direto com Eliza Virgínia, mas sua expressão séria indicava que ele absorvia as palavras da deputada com cautela. Ao encerrar seu discurso, Eliza ressaltou que sua luta não se encerrava com sua saída da Câmara, mas que esperava ter contribuído para levantar uma questão que considera fundamental para a justiça brasileira.
A saída de Eliza Virgínia não passa despercebida entre seus apoiadores e membros da base conservadora, que reconhecem seu papel na defesa de pautas que, para eles, são essenciais para garantir direitos e tratar com equidade todos os envolvidos em casos judiciais de teor político. Enquanto a anistia aos presos do 8 de janeiro continua em suspenso, a postura da deputada serve como um lembrete dos desafios que projetos polêmicos enfrentam no cenário político nacional.
Ao final de seu pronunciamento, Eliza Virgínia foi aplaudida por alguns parlamentares. Em uma breve conversa com jornalistas após o discurso, ela destacou que continuará acompanhando o trabalho da Câmara de fora, mas que acredita que uma solução justa ainda será alcançada.