Na última semana, um vazamento trouxe à tona a reação do ministro Alexandre de Moraes diante da possibilidade de ter seu visto americano revogado. A informação veio a público por meio da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, que relatou os comentários de Moraes sobre o assunto em tom aparentemente descontraído, mas que teria evidenciado certo desconforto do ministro.
Moraes teria reagido com ironia à questão, abordando-a em uma conversa informal com outros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo relatos, a notícia de que ele e outros membros do STF poderiam enfrentar restrições para viajar aos Estados Unidos foi recebida com risadas. Apesar da leveza com que o assunto foi discutido, fontes próximas indicam que a situação é delicada para o ministro, especialmente após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos e o fortalecimento de figuras políticas próximas a Jair Bolsonaro. O retorno de Trump ao poder reacende a possibilidade de medidas mais rígidas contra autoridades brasileiras que, segundo críticos, teriam extrapolado suas funções institucionais.
A situação se desenrolou em um contexto de pressão internacional sobre o Judiciário brasileiro. Em setembro, parlamentares americanos alinhados a Trump enviaram uma carta ao Secretário de Estado Antony Blinken, onde acusam Moraes e outros membros do STF de atuarem como “ditadores totalitários”. Na correspondência, os congressistas pedem que o governo americano considere a possibilidade de revogar os vistos de tais ministros, como forma de repúdio à condução de determinadas investigações e decisões consideradas autoritárias. A carta, na época, não foi adiante sob a administração Biden, mas a recente vitória republicana reacende a expectativa de uma postura mais dura dos Estados Unidos em relação à questão.
Desde que assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e teve um papel destacado no combate à desinformação nas eleições de 2022, Moraes se tornou alvo de fortes críticas de apoiadores de Bolsonaro. Para os aliados do ex-presidente, o ministro teria usado seu poder de maneira desproporcional, bloqueando contas de redes sociais, ordenando prisões e aplicando multas que, segundo eles, foram motivadas mais por divergências políticas do que por justiça. Essa visão ganhou eco em setores da política americana que veem na atuação de Moraes uma ameaça à liberdade de expressão e uma aproximação de práticas ditatoriais.
A situação ganhou ainda mais destaque após as especulações na imprensa sobre a possibilidade de restrições a viagens internacionais para ministros do STF. Segundo essas reportagens, a pressão de parlamentares republicanos sobre Antony Blinken e o Departamento de Estado pode levar a medidas que limitem o acesso de ministros como Moraes aos Estados Unidos. O ministro teria mencionado esses rumores em uma conversa na sala de togas do STF, em que falou sobre a situação de forma irônica, mas as palavras escolhidas deixaram no ar o receio de que essas restrições possam se tornar realidade.
A possível revogação do visto é apenas mais uma de uma série de pressões e críticas que Moraes vem enfrentando. No Brasil, a postura do ministro também não passa despercebida, sendo amplamente criticada por parlamentares da oposição. Recentemente, membros do Congresso Nacional, principalmente ligados ao campo conservador e bolsonarista, vêm manifestando insatisfação com a condução de inquéritos por Moraes e com sua atuação em processos que envolvem figuras ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Muitos parlamentares veem na postura de Moraes um ativismo judicial incompatível com a função de um magistrado e têm se mobilizado para questionar a imparcialidade e os limites de sua atuação.
Do lado do Supremo, Moraes tem contado com apoio de outros ministros, que veem suas ações como parte de uma estratégia necessária para a proteção da democracia e da ordem institucional no Brasil. Para esses magistrados, a atuação do ministro em temas sensíveis, como a contenção de ataques às instituições e o combate à disseminação de fake news, é vista como essencial. No entanto, essa justificativa não acalma os críticos, que enxergam nessas ações um cerceamento da liberdade de expressão e uma interferência indevida do Judiciário em questões políticas.
A discussão sobre a possível revogação do visto de Moraes e de outros ministros do STF nos Estados Unidos ressalta o quão polarizado o cenário político se tornou, tanto no Brasil quanto no exterior. A volta de Trump ao poder pode reacender as alianças entre ele e Bolsonaro, estreitando os laços entre movimentos conservadores dos dois países. Isso gera, por sua vez, um clima de tensão para autoridades brasileiras que atuaram de maneira incisiva contra grupos apoiadores do ex-presidente no Brasil. Nos bastidores, há quem acredite que essa situação poderá influenciar a dinâmica das relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, especialmente no que tange à cooperação em áreas sensíveis, como a justiça e a segurança internacional.
O futuro ainda é incerto, mas os próximos passos de Moraes e do STF serão observados com atenção, tanto dentro quanto fora do Brasil. Em um cenário de crescente tensão, o Judiciário brasileiro pode vir a enfrentar obstáculos em arenas internacionais, o que pode gerar consequências ainda imprevisíveis para a imagem do país e para as instituições democráticas brasileiras.