Em mais uma controvérsia no debate sobre a reforma trabalhista, a deputada Erika Hilton (PSOL) propôs a redução da jornada de trabalho semanal de seis dias com um de descanso (6x1) para quatro dias de trabalho com três de descanso (4x3). A proposta, que ainda não foi formalmente apresentada ao Congresso, gerou reações acaloradas de setores que se opõem ao projeto. Hilton afirma que a mudança visa trazer benefícios para a qualidade de vida dos trabalhadores, além de fomentar a criação de empregos e aumentar a produtividade.
O modelo de jornada 4x3 tem sido objeto de discussões em vários países, especialmente após a pandemia de COVID-19, que forçou uma reavaliação dos padrões de trabalho convencionais. Nos últimos anos, diversas empresas ao redor do mundo adotaram a semana de quatro dias em caráter experimental, reportando bons resultados em termos de produtividade e satisfação dos funcionários. No entanto, críticos da proposta no Brasil alegam que a mudança pode prejudicar a economia e aumentar o índice de desocupação, gerando impacto negativo nos setores de produção que dependem de jornadas semanais mais extensas.
Para Erika Hilton, a proposta está alinhada com as transformações no mercado de trabalho e com a busca por um modelo de produção mais humanizado. Segundo ela, com a tecnologia avançada e a automação ganhando espaço em setores produtivos, é essencial repensar o tempo de trabalho para não sobrecarregar os profissionais. "Precisamos adaptar nossas leis e permitir que o trabalhador tenha mais tempo para cuidar de si e de sua família, sem sacrificar sua vida pessoal em função do trabalho", declarou a deputada.
Os críticos da proposta, no entanto, têm opinião oposta. Um editorial do Jornal da Cidade Online descreveu a ideia como uma tentativa de promover o ócio, associando o novo modelo de trabalho a um possível incentivo à criminalidade. Na visão do veículo, a mudança acarretaria uma cultura de “vadiagem” que prejudicaria a produtividade e as oportunidades de trabalho. A opinião publicada afirma que a proposta "é bem a cara dos esquerdistas", sugerindo que ela estaria alinhada com ideais de “ociosidade” em detrimento da ética de trabalho tradicional.
Outros opositores da jornada 4x3 argumentam que uma semana de trabalho reduzida afetaria o desenvolvimento da economia e encareceria os custos para os empregadores. Eles sustentam que a medida poderia desincentivar a contratação e, possivelmente, contribuir para o aumento do desemprego. Para essas pessoas, o modelo 6x1 é o mais adequado ao Brasil, pois mantém a força de trabalho ativa e auxilia na geração de riquezas.
O debate sobre a proposta também abriu espaço para discussões mais amplas sobre a necessidade de reforma trabalhista no país. Desde 2017, o Brasil passou por uma série de alterações em sua legislação laboral, que visavam flexibilizar as normas e aumentar a competitividade no mercado. A jornada reduzida proposta por Hilton representa, para muitos, um retrocesso, pois poderia desfazer avanços alcançados na área. Entretanto, especialistas em relações trabalhistas e economia apontam que uma adaptação da carga horária pode ser uma maneira eficiente de estimular a economia, principalmente em setores de tecnologia e serviços.
Países como Islândia e Nova Zelândia têm experimentado modelos de jornada reduzida com resultados positivos, incluindo aumento da produtividade, melhoria na saúde mental dos trabalhadores e diminuição das taxas de absenteísmo. No entanto, a viabilidade do modelo no Brasil é questionável, segundo economistas, especialmente em setores de indústria pesada e agricultura, onde o ritmo de produção exige jornadas mais longas para garantir a continuidade das operações.
Ainda assim, Hilton e seus apoiadores acreditam que o Brasil deve se alinhar com as tendências globais e reavaliar a estrutura de trabalho com base em estudos e evidências. Eles defendem que a proposta, se bem planejada e implementada, poderá modernizar o mercado e, ao mesmo tempo, melhorar a vida dos brasileiros. "É uma ideia que precisa ser debatida de forma transparente, sem preconceitos. Não se trata de preguiça, e sim de um direito à qualidade de vida", afirmou Hilton em resposta aos comentários críticos.
Por outro lado, o Jornal da Cidade Online e outros veículos com posicionamento mais conservador sugerem que a proposta é inviável e que não se adapta à realidade nacional. Eles ainda sugerem que um abaixo-assinado seria uma forma de frear a ideia antes que chegue ao Congresso, posicionando-se firmemente contra a possibilidade de discussão da jornada 4x3. Esses veículos argumentam que a “cultura do trabalho” não pode ser enfraquecida e que o Brasil, como país em desenvolvimento, necessita de uma força de trabalho comprometida para crescer economicamente.
O debate sobre a jornada de trabalho, no entanto, está apenas começando, e parece que será uma das questões centrais da pauta trabalhista em 2024. Resta ver se o projeto avançará, considerando os desafios econômicos e sociais do país e se haverá abertura para discussões profundas entre o poder legislativo, sindicatos, empresas e os próprios trabalhadores.