“Um país onde a vítima julga o acusado, não é uma democracia. É uma ditadura”, diz magistrado (veja o vídeo)


 A recente Operação Contragolpe, deflagrada pela Polícia Federal na última terça-feira (19), reacendeu o debate sobre os limites do poder judiciário no Brasil e a postura de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A ação visou prender militares e um agente federal acusados de planejar o assassinato de autoridades, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o próprio Moraes. No entanto, o que mais chamou a atenção foi o fato de o ministro, que autorizou a operação, figurar como suposta vítima do caso e citar seu próprio nome 44 vezes ao longo da decisão.


A presença de Moraes no centro da investigação reacende polêmicas que já vinham sendo questionadas anteriormente. Há meses, a Folha de S.Paulo revelou mensagens atribuídas a ex-assessores do ministro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apontando que ele teria tomado ações fora dos ritos legais no chamado "inquérito das Fake News". Entre as acusações, consta o uso da estrutura do TSE para levantar informações e produzir relatórios contra manifestantes críticos à sua atuação, além de endurecer medidas contra a plataforma X (antigo Twitter), após Elon Musk se recusar a moderar conteúdos que criticavam o magistrado.


Na decisão da Operação Contragolpe, Moraes argumentou que os alvos do mandado de prisão planejavam ações operacionais ilícitas com o objetivo de "viabilizar um golpe de Estado" e impedir a posse do governo eleito em 2022. Ele ainda ressaltou que tais condutas incluíam o monitoramento de suas atividades. Durante a investigação, elementos relacionados a Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, também foram citados, reforçando as suspeitas de envolvimento de figuras próximas ao governo anterior no suposto plano.


Apesar das justificativas apresentadas, a postura de Moraes vem sendo duramente criticada por setores da sociedade e por especialistas jurídicos. Para o desembargador aposentado Sebastião Coelho, a situação configura uma grave violação dos princípios democráticos. "Um país onde a vítima julga o acusado, não é uma democracia. É uma ditadura", afirmou Coelho, destacando que tal conduta compromete a imparcialidade do julgamento e reforça a percepção de abuso de poder por parte do ministro.


Coelho acredita que as ações de Moraes têm extrapolado os limites da legalidade e que a perda do cargo do magistrado é apenas uma questão de tempo. "Já há inúmeras ilegalidades cometidas. Porém, até lá, não podemos ficar suportando os danos que estão sendo causados ao país", declarou. Sua fala ecoa um sentimento crescente entre críticos que veem na atuação de Moraes um excesso de centralização e um enfraquecimento das instituições democráticas.


Outro ponto levantado pelos críticos é a recorrente menção do próprio nome de Moraes em suas decisões. Para eles, isso demonstra uma tentativa de legitimar seu papel como vítima e, ao mesmo tempo, juiz, em casos que envolvem sua própria segurança e integridade. Essa dualidade, na visão de muitos, compromete a credibilidade e a imparcialidade das investigações conduzidas pelo STF.


A polêmica envolvendo o ministro também levanta questões sobre os rumos da democracia brasileira. Para alguns, as medidas adotadas por Moraes refletem uma tentativa de proteger o Estado de Direito contra ameaças antidemocráticas. No entanto, para outros, a postura do ministro representa um risco ao equilíbrio entre os poderes e à liberdade de expressão, especialmente quando envolve a perseguição a críticos e opositores.


Enquanto isso, a Operação Contragolpe segue sendo alvo de debate. As acusações contra os detidos incluem não apenas o planejamento de ações violentas, mas também a tentativa de articular um movimento para impedir a posse do governo eleito em 2022. Segundo o relatório da Polícia Federal, tais ações teriam sido conduzidas por militares com formação em Forças Especiais, o que aumenta a gravidade do caso.


No entanto, para que a investigação tenha credibilidade, muitos defendem que seja conduzida com total transparência e dentro dos limites legais. A presença de Moraes como figura central, tanto na condução quanto como alvo das supostas ações, gera desconfiança e põe em xeque a lisura do processo.


O episódio evidencia um momento delicado da política e do judiciário brasileiro, com impactos que vão além da operação em si. De um lado, há a necessidade de combater ameaças reais à democracia e garantir a estabilidade do país. De outro, o cuidado para que as instituições não se tornem instrumentos de autoritarismo ou sejam vistas como agindo de maneira parcial.


A tensão em torno do papel de Alexandre de Moraes, já vista em investigações anteriores como o inquérito das Fake News, reforça a urgência de um debate mais amplo sobre os limites do poder judiciário e a preservação das instituições democráticas no Brasil. Enquanto isso, a população observa com cautela o desenrolar dos acontecimentos, em um cenário que combina desconfiança, polarização e incertezas sobre o futuro político do país.
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