O xingamento da primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja, ao bilionário Elon Musk durante um evento paralelo ao G20 no sábado (16/11) gerou uma onda de controvérsias e colocou o governo do presidente Lula em uma situação delicada. Durante sua fala, ao enfrentar uma falha técnica no som, Janja atribuiu o problema a Musk e, visivelmente irritada, disparou: "Fuck you, Elon Musk". A frase, que rapidamente viralizou, teve reações polarizadas, provocando desconforto entre diplomatas e ministros, mas também recebendo apoio de figuras do governo, como o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, que considerou a atitude um reflexo de um sentimento coletivo.
Pelo X, antigo Twitter, Paulo Teixeira elogiou a declaração de Janja e afirmou que ela “disse o que estava preso nas nossas gargantas sobre Elon Musk e sua influência negativa na política internacional”. Para ele, a fala representa uma crítica legítima ao bilionário, conhecido por seu posicionamento político controverso e suas críticas recorrentes a líderes progressistas em diversos países. No entanto, a atitude da primeira-dama não foi recebida da mesma forma por todos. Fontes do Itamaraty, consultadas sob anonimato, classificaram a fala como "desnecessária" e alertaram para possíveis consequências diplomáticas negativas, especialmente com os Estados Unidos, onde Elon Musk mantém uma relação próxima com o ex-presidente Donald Trump.
A situação é ainda mais sensível considerando o momento político. Musk tem sido um crítico feroz do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, acusando-o de ser um agente de censura no Brasil. Moraes, que já está sob pressão por conta de suas decisões judiciais, é frequentemente apontado como peça central em investigações sobre desinformação e ataques à democracia, o que tem gerado críticas intensas de aliados de Trump e de figuras conservadoras nos Estados Unidos. Com o episódio envolvendo Janja, novos questionamentos sobre o alinhamento político do governo brasileiro e suas relações com o Judiciário ganharam força, criando um terreno fértil para acusações por parte da oposição e complicando a posição de Moraes no cenário internacional.
Fontes próximas ao STF relataram que Moraes recebeu a notícia do xingamento com ironia, mas sua aparente tranquilidade esconde preocupações reais. Entre os membros da Suprema Corte, já se comenta a possibilidade de retaliações internacionais, como a revogação do visto americano do ministro, uma medida que seria vista como uma resposta simbólica à deterioração das relações entre Brasil e Estados Unidos. Apesar disso, Moraes mantém sua postura habitual, ainda que o cenário pareça cada vez mais desfavorável.
Dentro do Palácio do Planalto, a avaliação sobre o episódio também é de cautela. Um assessor presidencial, que pediu para não ser identificado, afirmou que Janja "extrapolou" e que o governo deve tratar o caso com prudência para evitar danos diplomáticos permanentes. Há uma preocupação em equilibrar a narrativa pública, preservando a imagem da primeira-dama sem aprofundar os atritos com figuras influentes no cenário internacional. Contudo, a declaração de Janja forneceu munição aos críticos de Lula e reforçou as alegações de que seu governo estaria disposto a apoiar posições polêmicas do Judiciário brasileiro em troca de estabilidade política interna.
O contexto do evento torna o incidente ainda mais problemático. O G20 é tradicionalmente um palco para negociações diplomáticas e fortalecimento de alianças estratégicas. Ao protagonizar um momento de tensão, Janja desviou a atenção de pautas importantes para o Brasil e criou um imbróglio que pode complicar as relações do país com os Estados Unidos, especialmente considerando a possível reeleição de Trump, um aliado de Musk. A fala também reforça a percepção de que Brasília estaria alinhada com decisões judiciais vistas como autoritárias por críticos internacionais, o que pode afastar parceiros comerciais e investidores.
Por outro lado, a declaração de Janja encontrou eco em setores progressistas que veem Musk como uma figura problemática na política global. Suas recentes intervenções, incluindo críticas às redes sociais e sua suposta influência em decisões governamentais, têm sido alvo de questionamentos por líderes de esquerda em diversos países. Nesse sentido, a atitude de Janja pode ser interpretada como um posicionamento político mais direto, ainda que arriscado.
O impacto do episódio ainda é incerto, mas especialistas acreditam que ele pode marcar um ponto de inflexão nas relações do governo Lula com potências estrangeiras. Enquanto alguns veem na fala de Janja uma oportunidade para discutir a influência de figuras bilionárias na política internacional, outros alertam para os riscos de ampliar o isolamento diplomático do Brasil em um momento de desafios econômicos e políticos. Em meio a essas incertezas, a frase da primeira-dama continua ecoando, dividindo opiniões e reacendendo debates sobre a postura do governo diante de figuras controversas como Elon Musk.