Em uma nova declaração polêmica, o ex-presidente Jair Bolsonaro utilizou suas redes sociais para compartilhar trechos de uma entrevista concedida à Rádio Auriverde, onde rebateu a acusação de uma tentativa de “golpe de estado” em 8 de janeiro e fez duras críticas à situação política do Brasil. Afirmando que o país vive “uma ditadura total”, Bolsonaro comparou o atual governo a um “regime venezuelano”, destacando que, em certos aspectos, o Brasil estaria ainda mais avançado em relação ao autoritarismo do que a Venezuela.
No início de seu discurso, Bolsonaro criticou a narrativa de que ele estaria envolvido em uma tentativa de golpe de estado no início do ano, quando manifestantes invadiram os prédios dos três poderes em Brasília. Segundo ele, essa teoria é completamente “grotesca” e infundada, pois os eventos do dia foram protagonizados por cidadãos desarmados e sem qualquer tipo de coordenação estratégica. O ex-presidente questionou o objetivo de insistir nessa acusação, sugerindo que existe um interesse em vincular seu nome a uma tentativa de golpe, que ele considera inexistente e forçada. “Ninguém tentou tomar o poder no dia 8 de janeiro”, declarou enfaticamente.
Bolsonaro também abordou o conceito de estado de sítio, enfatizando que tal medida é prevista pela Constituição e requer aprovação do Congresso Nacional, não podendo ser decretada unilateralmente pelo presidente. Ele observou que, apesar de os procedimentos serem claros, algumas autoridades parecem “forçar a barra” para manter o discurso de uma tentativa de golpe. Para Bolsonaro, essa insistência serve apenas para justificar a repressão contra as pessoas detidas em decorrência dos atos de janeiro. “Querem justificar a barbaridade que fizeram com esses mais de 100 presos atualmente”, declarou, referindo-se ao encarceramento de manifestantes que, segundo ele, estão sendo tratados de maneira desproporcional, muitos com tornozeleira eletrônica ou em prisão na Papuda, além dos que buscaram refúgio na Argentina.
Em sua análise, Bolsonaro acusou setores do Judiciário e do Ministério Público de desrespeitarem o “devido processo legal”. Ele destacou que, em sua visão, a condução das investigações por autoridades, principalmente pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, representa uma ameaça ao Estado Democrático de Direito. Segundo ele, Moraes estaria exercendo um controle excessivo sobre as investigações, a ponto de determinar quem deve ser investigado, denunciado e até como o processo deve ser conduzido. Bolsonaro lembrou mensagens da equipe de Moraes, que teriam sido divulgadas pela imprensa, nas quais instruções para “usar a criatividade” eram dadas para atingir alvos específicos. “Lembra daquela história de ‘use sua criatividade’? ‘Olha, o chefe quer pegar o Eduardo’? É isso daí!”, comentou, em referência ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, seu filho.
O ex-presidente também citou o caso do deputado federal Gustavo Gayer, que, segundo ele, foi alvo de uma acusação injusta de desvio de verba pública apenas dois dias antes das eleições. Bolsonaro argumentou que a acusação foi feita mesmo antes de Gayer assumir o mandato, o que ele considera um exemplo de perseguição política, corroborando a tese de que as investigações são direcionadas a figuras públicas ligadas à oposição.
A crítica de Bolsonaro à condução das investigações pelo Supremo Tribunal Federal e pelo ministro Moraes estendeu-se também à Polícia Federal. Ele apontou que alguns setores da instituição estariam atuando em alinhamento direto com o ministro, citando o delegado Fábio Shor como um dos nomes que, segundo ele, “faz o que o ministro bem entende”. De acordo com Bolsonaro, esse comportamento transforma a instituição em uma ferramenta política a serviço de um grupo, comprometendo a imparcialidade das investigações e a própria democracia.
Em tom de indignação, Bolsonaro reforçou que está disposto a responder por todas as suas ações durante o mandato, mas teme pela parcialidade de quem o julgará. “Eu não tenho nenhuma preocupação em responder pelo que fiz. Agora, a preocupação é quem vai me julgar, é quem fez o inquérito”, afirmou, sugerindo que o processo é viciado e direcionado. Ele concluiu apontando que, em sua avaliação, o país vive um contexto de repressão política, onde direitos civis e democráticos estariam sendo violados.
Ao comparar o Brasil a uma ditadura total, Bolsonaro afirmou que o cenário atual é ainda mais grave que o imaginado por muitos. Para ele, o país atravessa uma fase de supressão quase completa da democracia. “Se alguém achava que vivíamos 10% de democracia, 5%, agora é zero. Agora, é ditadura total. É regime venezuelano”, declarou, ressaltando que alguns aspectos do autoritarismo no Brasil estão ainda mais avançados do que na Venezuela, tradicionalmente alvo de críticas de políticos da direita latino-americana.
As declarações de Bolsonaro reacenderam debates nas redes sociais, dividindo opiniões entre apoiadores e críticos. Enquanto muitos de seus seguidores endossam o discurso de que o Brasil vive uma escalada autoritária, críticos apontam que o ex-presidente utiliza esses discursos para desviar a atenção das acusações e investigações que pesam contra ele e aliados. A reação pública, entretanto, demonstra que a figura de Bolsonaro ainda ocupa um lugar central no cenário político brasileiro, sendo tanto um símbolo de oposição quanto um ponto de polarização nas discussões sobre a atual conjuntura nacional.