A Polícia Federal deflagrou, nesta quarta-feira, 20 de dezembro, a operação Rent a Car, cumprindo seis mandados de busca e apreensão em endereços ligados a assessores dos deputados federais Carlos Jordy (PL-RJ) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). A ação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino e ocorreu em três estados: Rio de Janeiro, Tocantins e Distrito Federal. A operação tem como objetivo investigar supostos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
De acordo com a Polícia Federal, as investigações começaram após a identificação de possíveis desvios de recursos públicos oriundos de cotas parlamentares. O esquema envolveria assessores parlamentares e empresários que teriam firmado contratos fraudulentos para a realização de serviços nunca prestados. Entre as evidências apresentadas estão transferências financeiras consideradas incompatíveis com os rendimentos declarados e a prática de smurfing – uma técnica que consiste em dividir grandes quantias de dinheiro em depósitos menores, dificultando o rastreamento por órgãos fiscalizadores.
O nome da operação, Rent a Car, foi inspirado no método utilizado pelos suspeitos, que supostamente usaram uma empresa de locação de veículos para simular contratos de prestação de serviços. A PF acredita que a empresa serviu como fachada para a movimentação de dinheiro desviado, criando uma aparência de legalidade. Além disso, os investigadores apuram a ligação dos envolvidos com outra empresa que já foi denunciada em fraudes licitatórias no Amazonas, o que poderia indicar um esquema mais amplo de corrupção.
A operação rapidamente repercutiu no cenário político. Sóstenes Cavalcante usou suas redes sociais para se pronunciar sobre o caso, negando qualquer envolvimento em irregularidades. Em tom enfático, afirmou: “Fui informado sobre a operação envolvendo meus assessores pela imprensa. Podem revirar tudo, não irão achar nada!”. A declaração do parlamentar busca afastar qualquer suspeita sobre sua conduta, mas a investigação continua em andamento.
Carlos Jordy, por sua vez, preferiu responder às acusações diretamente na tribuna da Câmara dos Deputados. Em um discurso inflamado, Jordy criticou duramente a operação e acusou o Supremo Tribunal Federal de agir de maneira arbitrária. O deputado afirmou que a operação é mais um exemplo do que considera uma perseguição política contra parlamentares alinhados à oposição ao governo. Ele declarou: “Vivemos tempos sombrios em que o ativismo judicial tenta silenciar aqueles que se colocam contra o sistema. Não irei me calar!”.
A atuação do ministro Flávio Dino, que autorizou a operação, também gerou críticas. Dino, que recentemente assumiu a vaga no STF, tem sido alvo de questionamentos por sua postura considerada por muitos como um alinhamento com os métodos do ministro Alexandre de Moraes. Ambos têm protagonizado decisões polêmicas em casos envolvendo figuras públicas e políticos, o que alimenta o debate sobre os limites do Judiciário no Brasil. Parte da oposição considera essas ações uma tentativa de intimidação contra aqueles que se posicionam contra o governo federal.
A nota oficial da Polícia Federal destacou que a operação segue rigorosamente os trâmites legais e que as ações são fundamentadas em provas obtidas ao longo de uma investigação que já dura meses. No entanto, as suspeitas de motivação política não foram descartadas pelos parlamentares investigados, que classificaram a ação como mais um exemplo de “uso do aparato estatal para perseguir opositores”.
O cenário político nacional já enfrentava tensões, e a operação Rent a Car promete intensificar ainda mais os debates. A repercussão foi imediata entre aliados e opositores dos deputados, que utilizaram as redes sociais para manifestar opiniões. Enquanto aliados de Jordy e Cavalcante reforçam o discurso de perseguição política, opositores cobram esclarecimentos e lembram que as investigações estão apenas começando.
Além disso, o envolvimento de empresas de locação de veículos levanta novos questionamentos sobre a fiscalização do uso das cotas parlamentares, um tema frequentemente debatido, mas ainda pouco resolvido no Congresso Nacional. A transparência na aplicação desses recursos públicos volta ao centro das discussões, especialmente diante de novos indícios de fraudes.
A operação Rent a Car é mais um episódio que reforça a polarização do cenário político brasileiro, expondo as divergências entre o Judiciário e os representantes do Legislativo. As investigações continuam, e a Polícia Federal promete apresentar novos desdobramentos nos próximos dias. Enquanto isso, os parlamentares acusados tentam demonstrar que não têm ligação com os crimes investigados, apostando em discursos públicos para convencer a opinião pública de sua inocência.
O caso também reacende o debate sobre os limites das decisões judiciais no país, especialmente aquelas autorizadas por ministros do STF. A postura de Flávio Dino é comparada por alguns à de Alexandre de Moraes, conhecido por decisões contundentes em investigações envolvendo políticos e figuras públicas. Esse paralelo tem gerado críticas de setores que veem nessas ações um suposto excesso do Judiciário.
A complexidade das investigações e as acusações de perseguição política garantem que o desfecho deste caso será acompanhado de perto pela opinião pública. Mais informações sobre a operação Rent a Car devem ser divulgadas nas próximas semanas, enquanto parlamentares, empresários e assessores continuam sob investigação.
Pronunciamento sobre o mais recente abuso de autoridade feito contra meus assessores e do Deputado Sóstenes. pic.twitter.com/ybJ1lJjbmJ
— Carlos Jordy (@carlosjordy) December 19, 2024